O oráculo dos mortos em Éfira

πέμψαντι γάρ οἱ ἐς Θεσπρωτοὺς ἐπ᾽ Ἀχέροντα ποταμὸν ἀγγέλους ἐπὶ τὸ νεκυομαντήιον.

Ele enviou mensageiros à terra dos Tesprotos, ao Oráculo dos Mortos no Rio Aqueronte.

Necromanteion de ÉfiraNecromanteion de Éfira

A busca de informações junto a pessoas mortas era um costume muito antigo, já documentado na passagem da Odisseia em que o espírito do falecido adivinho Tirésias é evocado mediante elaborado ritual (Odisseia 11.20-50).

Os "oráculos dos mortos" ficavam, em geral, em locais longínquos e de difícil acesso, por onde era possível entrar no mundo dos mortos; na Grécia Antiga, o mais célebre de todos era o necromanteion (gr. νεκυομαντήιον) de Éfira, na Tesprótia, uma região do Épiro. O necromanteion situava-se perto de dois rios, Aqueronte e Cocito, nomeados de acordo com os míticos rios do mundo subterrâneo, e de certa forma era um santuário dedicado a Hades e Perséfone.

Na literatura grega, Heródoto (-484/-425) foi o primeiro a mencionar o oráculo (ver epígrafe). Os mais antigos vestígios do necromanteion são posteriores a Heródoto e datam de -400, mais ou menos; é possível, no entanto, que essa construção tenha destruído as partes mais antigas do sítio, que remontam ao Período Micênico. Hoje, praticamente todas as edificações que restaram foram erguidas durante o Período Helenístico, época de máximo esplendor do santuário.

A parte central do santuário consistia em uma imponente edificação quadrada com sólidas paredes de pedra de 3,5 metros de altura e 22 metros de largura. Havia um cômodo central, duas alas laterais, cada uma delas com três cômodos e, abaixo da sala central, uma cripta subterrânea — talvez a antiga caverna onde pode ter se originado o culto. O interior do edifício, verdadeiramente labiríntico, devia mesmo se parecer com a entrada do mundo subterrâneo. Além do mais, o acesso se dava através de corredores fechados por três imponentes portões — os portões do Hades...

Acorriam, de toda a Grécia, visitantes que procuravam entrar em contato com os mortos. Acredita-se que, após uma longa preparação com alimentos especiais, rituais, invocações, meditação e isolamento nos corredores escuros do santuário, o consulente tinha frequentemente visões (ou alucinações) que o induziam a acreditar ter visto ou ouvido alguém que já morrera. Não é impossível, também, que os sacerdotes empregassem algum tipo de mistificação baseada nos conhecimento que adquiriam da vida das pessoas que procuravam o oráculo.

O necromanteion foi incendiado e destruído pelos romanos em -167 e logo abandonado.