A prosa começou a ser usada regularmente na Grécia no século -VI, notadamente pelos logógrafos e
filósofos pré-socráticos.
Textos não poéticos adquiriram importância literária somente a partir da segunda metade do século -V, com as obras de Heródoto, de Platão, dos
oradores áticos e, de certa forma, também de textos técnicos como a coleção hipocrática.
Datam das últimas décadas do século -VII os mais antigos escritos em prosa, com algumas das disposições oriundas do
costume e conservadas de forma oral pelas diversas comunidades. Daí em diante não apenas as mais simples transações particulares começaram a
ser progressivamente registradas em linguagem estilizada, mas também os diversos acordos e tratados entre as póleis. A legislação de Drácon, emitida em
Atenas por volta de -620, constitui um dos mais antigos exemplos.
Outros relatos tradicionais conservados oralmente e que começaram a ser registrados por escrito no início do século -VI
foram as fábulas de animais atribuídas a Esopo. Fábulas são histórias curtas, de cunho moral, nas quais os principais personagens são muitas vezes animais
falantes em tudo parecidos com os seres humanos. Antigos aforismos, máximas e preceitos de origem desconhecida que seriam mais tarde atribuídos aos
Sete Sábios da Grécia foram também conservados, notadamente em inscrições, nessa mesma época.
Dentre os primeiros prosadores também estão Ferécides de Siros, que viveu provavelmente na primeira metade do século -VI e escreveu sobre
temas mitológicos; os logógrafos, cronistas que utilizaram o dialeto iônico para relatar a fundação de cidades, genealogias de famílias importantes,
costumes de alguns povos e certos acontecimentos de interesse puramente local; os pensadores pré-socráticos que especulavam sobre a estrutura
do universo sem recorrer à mitologia — notadamente Anaximandro, Anaxímenes, Heráclito de Éfeso, Diógenes de Apolônia, Anaxágoras,
Demócrito e Leucipo —; os anônimos autores de textos religiosos, e.g. os mais antigos escritos órficos
e os preceitos pitagóricos; os oráculos coletados por Onomácrito (c. -530/-480), talvez o primeiro a estudar os poemas homéricos.
Devem ser mencionados, finalmente, os precursores da literatura técnica[1], como Alcmeon de Crotona e os anônimos autores dos mais antigos textos hipocráticos; os arquitetos Quersifronte e Metagenes (fl. sæc. -VI), que participaram da construção do templo de Ártemis em Éfeso e escreveram um livro sobre seu trabalho; os tratados do matemático Hipócrates de Quios; relatos de viajantes como Cílax da Carianda (fl. -519/-512)[2] e um antigo tratado de retórica de Córax de Siracusa e de seu discípulo Tísias (sæc. -V), que não chegou até nós.
Dentre os mais antigos prosadores, os textos de Heráclito podem ser considerados o mais habilmente escritos, em termos de linguagem, e os mais articulados, do ponto de vista da construção literária. Foram, no entanto, Anaximandro e Hecateu de Mileto os escritores que estabeleceram o dialeto iônico como a linguagem apropriada à prosa literária. Somente depois de Platão, Aristóteles e Teofrasto outros dialetos, em especial o ático, começaram a ser utilizados na prosa.
Segundo Estrabon (1.2.6), os primeiros a escrever um livro em prosa foram Cadmo de Mileto[3], Ferécides de Siros e Hecateu de Mileto. Cadmo e Hecateu eram logógrafos e Ferécides, mitógrafo ou téologo, de acordo com a abordagem. Diógenes Laércio atribui a primazia a Ferécides (D.L. 1.116) e Plínio, o Antigo (HN 31), a Cadmo, mas a datação dos três é tão aproximada que não é possível, no momento, sabermos com certeza.