Todos os povos têm frases oriundas da sabedoria popular e às quais se atribui a
autoridade de verdade inconteste
(Tosi, 1996).
Os sete sábios da Grécia
Autores importantes como Heródoto (-484/-425), Platão (-428/-347)
e Aristófanes (-447/-386), por exemplo, citavam provérbios com frequência.
Na Grécia, essas frases remontam no mínimo aos primeiros séculos do Período Arcaico e
muitas têm evidente influência oriental. Aristóteles (-384/-322)
considerava-as vestígios de sabedoria antiga que se perdera e até os
ilustrados eruditos do Museu de Alexandria preocuparam-se em coletar,
durante o Período Helenístico, todas as máximas, aforismos, preceitos e similares que
lhe caíram nas mãos.
Segundo a antiga tradição grega, grande parte das máximas e preceitos que todos
conheciam e repetiam eram atribuídas aos sete sábios da Grécia,
οἱ ἑπτὰ
σοφοί. Essa denominação era
dada na Antiguidade a sete homens todos estadistas ou legisladores
que viveram entre -625 e -550 e se tornaram
notáveis pela sabedoria prática. Algus dos ensinamentos a eles atribuídos
γνῶμαι καὶ ἀποφθέγματα,
'máximas e preceitos' se tornaram tão populares que foram
inscritos no templo de Apolo em Delfos em algum momento do século
-VI.
A lista de sábios variou um pouco com o passar do tempo, e uma das mais difundidas
remonta ao tempo de Platão: Tales de Mileto, Periandro de Corinto, Pítaco de Mitilene, Bias de Priene, Cleóbulo de Lindos, Sólon de Atenas e
Quílon de Esparta.
Mitos e verdades
Diógenes Laércio (D.L. 1.1.27-8) conservou as diversas versões da lenda
que agrupou esses homens. Uma delas conta que, certo dia, alguns
pescadores de Mileto encontraram uma trípode de ouro. Interrogado o oráculo de Delfos,
ele ordenou que a entregassem ao mais sábio dos homens. O povo de Mileto
entregou-a então a Tales, que declinou da honra afirmando que havia outros
mais sábios que ele. A trípode passou então por todos os homens da lista, mas todos
tiveram a mesma atitude. Sólon (ou Bias), finalmente, o sétimo a
recebê-la, ofereceu a trípode a Apolo, dizendo que o deus era o mais
sábio (Plu. Sol. 4).
As ações desses sete sábios
, homens de grande prestígio, influência política e
sabedoria prática, se insere no período de crise que foi o final do século
-VII e a primeira metade do século -VI. Durante esse período
turbulento, que se seguiu ao advento de uma nova forma de organização política, a da
pólis, novas leis e regras de conduta tornaram-se necessárias às
novas relações humanas e à própria vida social. Segundo a tradição, somente alguns
dentre os gregos tiveram a sabedoria necessária. Através de ações e ideias,
divulgadas e repetidas através de aforismos, moldaram uma nova ética e uma moral nova,
assim como as virtudes próprias do cidadão
(Aristóteles, apud Vernant,
1992).
Máximas e preceitos
Os ditos sentenciosos (gr. γνῶμαι καὶ ἀποφθέγματα)
dos sete sábios da Grécia eram respeitados pelo
valor gnômico (do gr. γνῶσις,
'conhecimento') e muito citados pelos antigos, como Heródoto (-484/-425) e
Diógenes Laércio (200-250), entre outros.
Edições e traduções
Dentre as diversas coletâneas de sentenças proverbiais dos Períodos Helenístico e
Greco-romano, uma das mais importantes está no Parisinus graecus
3070 (sæc. XII/XIV) da Biblioteca Nacional de Paris e deve ter sido
compilada pelo sofista Zenóbio (sæc. II). Muitas frases foram também recolhidas por
Demétrio de Falero (-350/-280) e por Estobeu (fl.
450/500).
As edições modernas mais importantes das sentenças atribuídas aos Sete Sábios são as
edições de Mulach (1860) e de Diels-Krantz (61951).
Passagens selecionadas
Em português, a primeira tradução data de 1744: Auto Primeiro dos
Sete Sábios da Grécia, que trata de várias sentenças que disserão, e outros Filósosofos
antigos. Tradução de hum anonymo.
Em 1745, saíram duas outras edições, com o Auto
Segundo e o Auto Terceiro.