ciências600 palavras

Hipócrates de Cós

Ἱπποκράτης Hippocrates Medicus [Hippoc.] -460 / -380

Hipócrates de Cós foi, segundo a tradição, o maior médico da Grécia Antiga e, possivelmente, de toda a Medicina Ocidental.

Sumário

Na Antiguidade era chamado de pai da Medicina e sua importância é tão grande que, a exemplo da Filosofia, pode-se dividir a história da Medicina em duas etapas, a pré-hipocrática e a hipocrática.

Biografia

Hipócrates nasceu na ilha de Cós em -460 e morreu em Larissa, na Tessália, por volta de -380. Era um asclepíade, membro de uma espécie de corporação de médicos que alegava descender do próprio Asclépio, o deus da Medicina.

miniaturaHipócrates de Cós, sæc. i/ii

Consta que seu pai, Heraclides, era médico, assim como seus filhos Tessalo e Drácon. Iniciou-se na profissão provavelmente com o pai, como era costume na época, clinicou mais tarde em vários lugares e também ensinou medicina durante muitos anos. Platão o menciona com uma certa admiração nos diálogos Fedro, Cármides e Protágoras, e atesta que essa atividade didática era remunerada pelos alunos.

Já em vida sua reputação de médico e professor era considerável. Muito de sua fama posterior advém, no entanto, da atribuição a ele, pelos antigos, dos escritos médicos da “coleção hipocrática”, mas nenhum desses textos pode ser considerado de sua autoria. Acredito, particularmente, que é bem possível ter sido Hipócrates o primeiro a aplicar e a difundir os conceitos defendidos pelos mais antigos textos da coleção e que, graças ao seu renome, os antigos acabaram considerando-o autor de toda a obra.

Conservou-se um epigrama atribuído a Diógenes Laércio que, segundo consta, ainda podia ser visto na tumba de Hipócrates em Larissa, durante o século II, e que sintetiza admiravelmente a vida, a doutrina e o respeito que Hipócrates mereceu de seus contemporâneos:

Θεσσαλὸς Ἱπποκράτης,  Κῶιος γένος, ἐνθάδε κεῖται, Φοίβου ἀπὸ ῥίζης ἀθανάτου γεγαώς, πλεῖστα τρόπαια νόσων στήσας ὅπλοις Ὑγιείης, δόξαν ἑλὼν πολλὴν οὐ τύχαι, ἀλλὰ τέχναι. O tessaliano Hipócrates, de família de Cós, descansa aqui. Nascido do imortal tronco de Febo, inúmeros troféus contra as doenças erigiu com as armas de Hígia e obteve imensa glória não pelo acaso, mas pela sua arte.

O método hipocrático

miniaturaHipócrates de Cós
pintura, sæc. xiv

Segundo a tradição, Hipócrates deu à medicina o impulso rumo ao diagnóstico, prognóstico e tratamento em bases científicas. Estabeleceu, além disso, um conjunto de normas de conduta que fundamenta até hoje a ética médica.

Graças à Hipócrates — ou aos escritos a ele atribuídos — a Medicina é hoje considerada uma Ciência e uma Arte. Seus ensinamentos quanto à postura do médico podem ser resumidos no próprio “método hipocrático”: rigorosa observação do doente, análise racional dos fatos clínicos observados, escrupulosa correlação das causas e seus efeitos.

Nós vivemos ainda na era da medicina hipocrática.

Devido às lendas que cercam seu nome e ao anonimato dos escritos do corpus hippocraticum (a coleção de textos “hipocráticos”), é difícil saber com certeza quais ideias são do próprio Hipócrates. É provável que uma das principais tenha sido a necessidade de ver o homem como um todo[1]. Que ele atribuía a causa das doenças ao ar e a resíduos da digestão, como informa o manuscrito conhecido por Anonymus Londinensis, não tem respaldo em nenhum dos textos da coleção.

Notável característica dos textos hipocráticos é que nenhum deles se serve da magia ou da religião para explicar a causa das doenças. Talvez, e somente talvez, essa convicção tenha sido também a de Hipócrates.

Ainda conforme os escritos hipocráticos, ele preferia usar recursos naturais para o tratamento das doenças e era obsessivamente honesto no trato com o doente, seus familiares e também com os outros médicos.

Bibliografia

Ribeiro Jr. 2003; 2005.