Gaia e Urano, a terra e o céu
ἐπεὶ δ' ἐχωρίσθησαν ἀλλήλων δίχα,
τίκτουσὶ πάντα κἀνέδωκαν εἰς φάος,
δένδρη, πετεὶνά, θῆρας οὕς θ' ἅλμη τρέφεὶ
γένος τε θνητῶν.
O céu a terra eram uma só forma;
e quando se separaram um do outro, em dois,
criaram todas as coisas e levaram-nas à luz:
árvores, aves, animais, seres que o mar alimenta
e a raça dos mortais.
Na teogonia hesiódica, Urano (gr.
A partir dessa união entre o céu e a terra (sc. Urano + Gaia) o mundo começou, efetivamente, a tomar forma e nesse ponto a mitologia grega concorda com outras tradições antigas[1].
O domínio de Urano
Urano foi a primeira divindade a assumir o controle do universo
. No início, gerou divindades poderosas, selvagens e incontroláveis, que
obedeciam apenas sua própria natureza: os ciclopes e os hecatônquiros.
Os ciclopes (gr.
Os hecatônquiros (gr.
Os hecatônquiros e ciclopes participam, basicamente, da titanomaquia; um dos hecatônquiros, Briaréu, ajudou Zeus durante a revolta dos deuses olímpicos.
Mais tarde ou até antes, segundo Hesíodo (Th.
Os titãs (gr.
A linhagem dos titãs e titânides foi a mais produtiva e é a mais importante das duas, pois foi um dos titãs, Crono, que iria destituir o pai e assumiria posteriormente o controle do Universo.
Os titãs Crono e Reia deram origem aos deuses olímpicos; seus primos, filhos dos outros titãs, eram também divindades poderosas, mas de menor importância mitológica.
O pai desnaturado
Urano detestou todos os filhos desde o começo (Hes. Th.
Assim, após um começo enérgico, a formação do mundo havia chegado a um impasse: o potente Urano, embora tivesse gerado novas e poderosas divindades, não permitia que deixassem o interior de Gaia.
Titãs, ciclopes e hecatônquiros, presos no interior da mãe, temiam o pai e nada faziam. Gaia, porém, incomodada com a potência inútil de Urano, atulhada e ofendida, começou a conspirar contra o próprio marido.
A destituição de Urano
Um belo dia, a mãe de todos finalmente se cansou das loucuras de Urano e
urdiu um astucioso plano para libertar os filhos e ao mesmo tempo se livrar do
incômodo vigor do marido. Criou, em suas entranhas, o ferro mais resistente, fez com
ele uma afiada foice e pediu ajuda aos filhos. Somente Crono (gr.
Armado da foice, Crono se escondeu e à noite, quando Urano recobriu Gaia, decepou
com um só golpe os genitais do pai e
Os últimos descendentes
Urano continuou a cobrir Gaia diariamente, mas sem
Mas Urano era tão fértil que, mesmo sem os genitais, foi capaz de gerar outros descendentes.
O esperma que caiu no mar, perto da ilha de Chipre, produziu uma espécie de espuma
de onde
emergu a deusa Afrodite. O sangue da ferida, ao cair sobre a terra, gerou as
ninfas melíades, as erínias e, posteriormente, os gigantes.
Afrodite é uma das divindades mais importantes do panteão grego. As erínias participam diretamente da lenda de Orestes e da lenda de Alcmeon, filho de Anfiarau. Os gigantes desafiaram os deuses olímpicos na gigantomaquia.
Iconografia e culto
Urano, Ciclopes e Hecatônquiros não eram objeto de culto, nem habitualmente representados em obras de arte. Para as melíades, ver sinopse sobre as ninfas; para os gigantes, ver a sinopse correspondente.