Empédocles de Acragás

Ἐμπεδοκλῆς Empedocles Poeta Phil. Emp.

A um tempo estadista, filósofo, poeta, cientista e curandeiro, foi um dos mais desconcertantes e originais pensadores do século -V.

Sumário

Após sua morte, tornou-se assunto favorito de anedotas e lendas que muitas vezes desviam a atenção de suas importantes contribuições à filosofia e à ciência.

Vida e obra

Nasceu por volta de -492 em Acragás (Agrigento), rica pólis da Magna Graecia. Sua família era aristocrática e influente; consequentemente, Empédocles participou das atividades políticas de sua cidade durante algum tempo. Depois, viajou por muitos lugares e faleceu, mais ou menos aos sessenta anos, em local ignorado; nada mais se conhece de certo a respeito de sua vida.

Cerca de 450 versos de dois extensos poemas em versos hexâmetros, conhecidos tradicionalmente por Da Natureza e Purificações, chegaram até nós; segundo Rocha Pereira (1993), o primeiro poema foi escrito por um cientista e o segundo, por um visionário. Da Natureza trata de temas científicos e filosóficos; Purificações aborda predominantemente a natureza e o destino da alma. Nem sempre a distinção é nítida mas, a despeito de aparentes inconsistências, as duas obras parecem ter sido escritas pela mesma pessoa.

Pensamento. Contribuição à Medicina

miniaturaEmpédocles

A doutrina cosmogônica delineada no poema Da Natureza explicava toda a existência em termos de coesão e combinação de quatro raízes ou elementos básicos irredutíveis que interagiam ciclicamente através de dois princípios. Esses quatro elementos — Terra, Água, Fogo e Ar — preenchiam inteiramente o espaço, mantinham eternamente sua individualidade e eram isonômicos, isto é, de igual importância. Os dois princípios, Amor e Discórdia, promoviam a união ou a desunião dos elementos em um ciclo cósmico em que predominava ora um, ora outro. A alma era também o resultado da interação dos quatro elementos e dos dois princípios. Posteriormente, o conceito foi também adotado pela Medicina grega para explicar a saúde e a doença.

Ao monismo e ao imobilismo dos eleatas, Empédocles opôs, portanto, pluralismo e movimento. Suas ideias, conhecidas entre nós por doutrina dos quatro elementos, influenciaram profundamente Platão, Aristóteles, os estoicos e também as ciências, notadamente a medicina. Os quatro elementos só perderam o prestígio na segunda metade do século XVIII a partir dos estudos de Lavoisier (1743/1794).

Outras de suas ideias eram, porém bem menos consistentes e até mesmo místicas. Assim como Pitágoras, Empédocles defendia a transmigração das almas através de um longo ciclo de reencarnações, condicionado pelas consequências de alguma grave ofensa cometida. Em outros trechos de suas obras, Empédocles apresentava-se como curandeiro, capaz de ressuscitar os mortos, como mago capaz de influenciar os ventos e a chuva e até mesmo como uma divindade.

Deriva daí, possivelmente, a significativa quantidade de histórias fantásticas e anedotas que circularam a seu respeito durante toda a Antiguidade.

Contribuição à Zoologia

Empédocles acreditava que, no início, surgiram da terra formas brutas dotadas de uma porção de água e calor e que o próprio homem havia nascido da terra. Quanto às primeiras gerações de animais, elas não eram completas e consistiam de partes independentes que se combinaram de várias maneiras; quando a combinação era adequada, as criaturas não pereciam e se perpetuavam. Essa "teoria de Seleção Natural", a primeira da história, foi indiretamente mencionada por Darwin em seu livro A origem das Espécies (1859).

Os exemplos de combinações inadequadas que Empédocles forneceu são notáveis: rostos sem pescoços, olhos sem testas, braços soltos, criaturas com faces e peitos de ambos os lados, bovinos com rostos humanos, seres parte masculinos e parte femininos e assim por diante. Parece apenas um exercício desenfreado de imaginação, mas é possível que o filósofo tenha tentado explicar, desse modo, a existência de alguns monstros míticos.

Eis outras de suas observações, escolhidas dentre as mais interessantes:

  • uma mesma coisa são os cabelos e as folhas e a densa plumagem das árvores;
  • as coisas que existem emitem certos eflúvios através de poros;
  • a percepção surge quando alguma coisa se ajusta aos poros de cada um dos sentidos (teoria da percepção do semelhante pelo semelhante);
  • o sangue, que flui e reflui e circunda o coração dos homens, é o seu pensamento.

Contribuição à Astronomia

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Fig. 0154. Concepções astronômicas de Empédocles.

Ele afirmava, um tanto obscuramente, que o cosmos era uma esfera igual a si mesma, e que dois hemisférios giravam em torno da terra: um, inteiramente de fogo, era o dia; o outro, mistura de ar e de um pouco de fogo, era a noite.

O Sol seria um reflexo do fogo, um dos quatro elementos que haviam originado o mundo. Ele percebeu, também, que a luz da Lua provinha do Sol.

Fragmentos, edições e traduções

Restam 148 fragmentos de Empédocles, de extensão e importância variável; foram conservados, notadamente, por Aristóteles, Plutarco e Simplício (sæc. VI). As mais importantes fontes para a doxografia são Platão, Aristóteles e Teofrasto.

A editio princeps é a de Henri Estienne (Henricus Stephanus), 1573. Depois vieram as edições de Sturz (1805), Karsten (1838), Mullach (1860) e Stein (1882), entre outras. A mais utilizada, hoje em dia, é a de Diels e Krantz (61951). Aqui, por comodidade, utilizei a edição crítica de Kirk, Raven e Schofield (o.c.).

Gerd Bornheim traduziu a doxografia e os fragmentos para o português, em 1967; José Cavalcante de Souza também traduziu todos os fragmentos (1973) e Rocha Pereira (1998), alguns.