A transição dos templos erigidos com estruturas perecíveis da Idade das Trevas para os templos de pedra do Período Arcaico ocorreu,
de forma sistemática, do século -VII em diante.
Os primeiros templos do período foram muitas vezes construídos sobre os anteriores. O novo material de construção não alterou, pelo menos inicialmente, o formato básico de colunas e estruturas de madeira dos templos mais antigos.
O templo dedicado a Hera (heraion) em Argos (c. -700), o
segundo templo de Hera em Samos (c. -650), os templos de Apolo em
Thermon (c. 640) e em Prínias (-625/-600), e o templo de Atena em Esmirna (-630/-600) ilustram essa fase transicional.
Diversas características desses templos ainda lembram os templos do século anterior, mas elementos arquitetônicos que caracterizariam os templos
arcaicos dos séculos seguintes já estavam presentes nessas edificações.
Fig. 0006. Heraion de Argos, c. -680.
O heraion argivo (Fig. 0006) parece ter sido um templo característico do final da
Idade das Trevas: pequenas dimensões, planta levemente retangular, uma única divisão e
pórtico simples com duas colunas. Era muito semelhante às habitações comuns da época e deve ter
se inspirado nos templos que o precederam, como o heroon de Lefkandi [Ilum. 0175]
e o templo de Apolo Dafnéforo em Erétria [Ilum. 1095].
A planta do segundo heraion de Samos, um hekatompedon[1],
assemelha-se bastante à dos templos arcaicos
posteriores. O recinto principal era alongado, mas sem
pórtico dianteiro ou traseiro; havia suportes para o teto apoiados nas paredes de
calcáreo, o que permitia que a estátua cultual fosse vista desde a entrada. Um peristilo de madeira com base de pedra cercava todo o templo e, na frente, dupla fileira de seis colunas franqueava a entrada. Nada se sabe a respeito da cobertura.
Note-se que a planta do hekatompedon II de Samos é mais parecida com a do templo precedente, da Idade das Trevas — o
hekatompedon I[Ilum. 0154] —, do que com a do heraion argivo.
No continente, o templo dedicado a Apolo em Thermon (“templo C”), na Etólia, tinha
naos igualmente alongado, com colunas em seu interior, e era cercado por um
peristilo formado por uma única fileira de colunas.
Não havia pórtico na entrada, e sim
na parte traseira (opistódomo, gr. ὀπισθόδομος).
A parte inferior das paredes era de pedra, e o resto, de tijolos; as colunas do
peristilo, inicialmente de madeira, foram depois substituídas por colunas de pedra.
Nesse templo, que pôde ser reconstituído de forma mais completa do que os demais [Ilum. 0715],
algumas características da futura ordem dórica estavam já presentes. As colunas
apoiavam a entablatura, formada por uma arquitrave de madeira que, por
sua vez, sustentava um friso primitivo constituído por tríglifos e
painéis de terracota pintada (métopas) com cenas mitológicas e, logo acima, um
telhado coberto com pesadas telhas. Cabeças de terracota (antefixos) e desenhos
geométricos formavam a cornija que decorava a beira do telhado.
O templo de Prínias, Creta, o mais recente da série, se assemelhava ao heraion argivo, mas já era quase totalmente de pedra.
Não tinha naos alongado e nem
peristilo; a entrada, apoiada possivelmente por duas meias colunas, tinha um pórtico
apoiado em três enormes pilares, um deles bem diante da entrada. As paredes do
naos eram de pedra e em seu interior havia um local para sacrifícios, flanqueado
por duas colunas.
Esculturas e relevos de pedra no estilo dedálico típico do
século -VII provavelmente decoravam o lintel que ficava acima da porta
de entrada. Guerreiros armados sobre cavalos de longas patas formavam um friso de
pedra que decorava a parte de baixo das paredes ou a entablatura.
Em Esmirna, o antigo templo da Idade das Trevas foi reconstruído várias vezes entre -630 e -600, com sólidos fundamentos e colunas de pedra à sua volta.
O templo IIa (-630/-620) tinha planta bem mais complexa do que os demais e, alguns anos depois, o templo IIb recebeu três linhas de colunas à frente.
Pouco antes de -600, o peristilo dos templos IIIa-b recebeu colunas com capitéis ornamentados com folhas e volutas que evocam o estilo “eólico” (Fig. 0195),
que iria se desenvolver plenamente no início do século -VI.