A arquitetura da Idade das trevas

-1100 a -750

Foram as humildes construções da Idade das Trevas que, apesar da simplicidade, efetivamente inspiraram o grandioso estilo arquitetônico dos impressionantes templos de pedra do Período Arcaico.

Sumário

Aldeias e casas

As comunidades da Grécia Continental, em sua maioria, eram simples aglomerados de pequenas cabanas construídas com materiais perecíveis e que desapareceram praticamente sem vestígios.

Em Karfi (Creta) e em Esmirna (Ásia Menor), no entanto, os arqueólogos encontraram sinais da persistência de alguns conceitos arquitetônicos da Idade do Bronze.

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Fig. 0003. Vestígios e reconstituição de casa particular. Esmirna, -1000/-900.

O povoado de Karfi, localizado no alto de uma colina, existiu entre -1100 e -1000. As casas eram pequenas, de formato retangular, dispostas ao acaso e encostadas umas nas outras; as ruas estreitas eram recobertas de cascalho.

Esmirna, na costa ocidental da Ásia Menor, durou vários séculos. Nos níveis mais antigos, do século -X, foram encontradas casas de planta oval (ou duplamente apsidal) com um só cômodo, paredes de tijolos secos ao sol e telhado de duas águas, coberto provavelmente de palha. No século -IX, predominava a planta retangular e a aldeia era cercada por muralha protetora.

O heroon de Lefkandi

Na Grécia Continental, o heroon[1] de Lefkandi (Eubeia) é a mais imponente estrutura erigida durante a Idade das Trevas; data da primeira metade do século -X, e a influência micênica é evidente.

Tinha forma aproximadamente retangular, 47 metros de comprimento e ao longo de três de suas faces descobriu-se uma linha de buracos onde havia colunas de madeira. No interior havia duas sepulturas, uma com os esqueletos de quatro cavalos, e a outra com um homem e uma mulher, além de grande quantidade de oferendas fúnebres (muitas importadas de outras regiões).

Embora a estrutura se assemelhe aos templos do Período Arcaico, ainda há dúvidas quanto à utilização do heroon como templo.

Os primeiros templos

Uma grande sala de forma retangular com altar e restos de estatuetas femininas de Karfi, Creta, mostra a sobrevivência dos costumes religiosos micênicos após -1100.

É possível que os mais antigos santuários gregos tenham sido simples altares ao ar livre, eventualmente delimitados por um muro baixo e muitas vezes erigidos em locais considerados sagrados desde os tempos micênicos. Quando se decidiu abrigar as imagens das divindades, provavelmente, foram construídas estruturas simples de madeira, palha e tijolos de barro, muito semelhantes às habitações humanas.

miniaturaTemplo de Arcanes

De Arcanes, Creta, temos um pequeno modelo de santuário em argila. Trata-se de uma construção circular, pequena, com porta de entrada removível e uma deusa de braços levantados no interior. Data de -1050/-900 e é bem possível que represente o aspecto dos primeiros templos gregos.

O conjunto de colunas que mais tarde caracterizaria os templos arcaicos e clássicos, o períptero (gr. περίπτερος), demoraria a aparecer. Da Idade das Trevas, com alguma certeza, são conhecidos somente o pequeno templo de Hera (heraion), em Peracora (perto de Corinto); o santuário de Apolo Dafnéforo, em Erétria; e o primeiro heraion de Samos.

O heraion de Peracora e o santuário de Apolo de Erétria, datados de -800/-750, mais ou menos, eram pequenos, tinham plano apsidal[2] e nenhuma evidência conclusiva de colunas. A julgar pelo que sabemos das casas da época, a estrutura era de madeira e o telhado, de duas águas.

O hekatompedon[3] I de Samos, dedicado a Hera e datado do início do século -VIII, tem evidências inequívocas da presença de colunas, mas não à sua volta. Era retangular, alongado, e tinha paredes de tijolos de barro com embasamento de pedras baixas. Uma linha de colunas de madeira em seu interior suportava o teto, e a estátua da deusa firmava-se aparentemente sobre um simples pedestal de pedras achatadas. O telhado era provavelmente plano.