Foram as humildes construções da Idade das Trevas que, apesar da simplicidade,
efetivamente inspiraram o grandioso estilo arquitetônico dos impressionantes templos
de pedra do Período Arcaico.
As comunidades da Grécia Continental, em sua maioria, eram simples aglomerados de
pequenas cabanas construídas com materiais perecíveis e que desapareceram praticamente
sem vestígios.
Em Karfi (Creta) e em Esmirna (Ásia Menor), no entanto, os arqueólogos
encontraram sinais da persistência de alguns conceitos arquitetônicos da Idade do
Bronze.
O povoado de Karfi, localizado no alto de uma colina, existiu entre
-1100 e -1000. As casas eram pequenas, de formato retangular,
dispostas ao acaso e encostadas umas nas outras; as ruas estreitas eram recobertas de
cascalho.
Esmirna, na costa ocidental da Ásia Menor, durou vários séculos. Nos níveis
mais antigos, do século -X, foram encontradas casas de planta oval (ou duplamente apsidal) com um
só cômodo, paredes de tijolos secos ao sol e telhado de duas águas, coberto provavelmente de palha. No século
-IX, predominava a planta retangular e a aldeia era cercada por muralha
protetora.
O heroon de Lefkandi
Na Grécia Continental, o heroon[1] de Lefkandi
(Eubeia) é a mais imponente estrutura erigida durante a Idade das Trevas; data da
primeira metade do século -X, e a influência micênica é evidente.
Tinha forma aproximadamente retangular, 47 metros de comprimento e ao longo de três
de suas faces descobriu-se uma linha de buracos onde havia colunas de
madeira. No interior havia duas sepulturas, uma com os esqueletos de quatro cavalos, e
a outra com um homem e uma mulher, além de grande quantidade de oferendas fúnebres
(muitas importadas de outras regiões).
Embora a estrutura se assemelhe aos templos do Período Arcaico, ainda há dúvidas
quanto à utilização do heroon como templo.
Os primeiros templos
Uma grande sala de forma retangular com altar e restos de estatuetas femininas de
Karfi, Creta, mostra a sobrevivência dos costumes religiosos micênicos após
-1100.
É possível que os mais antigos santuários gregos tenham sido simples altares ao ar
livre, eventualmente delimitados por um muro baixo e muitas vezes erigidos em locais
considerados sagrados desde os tempos micênicos. Quando se decidiu abrigar as imagens
das divindades, provavelmente, foram construídas estruturas simples de madeira, palha e
tijolos de barro, muito semelhantes às habitações humanas.
Templo de Arcanes
De Arcanes, Creta, temos um pequeno modelo de santuário em argila.
Trata-se de uma construção circular, pequena, com porta de entrada
removível e uma deusa de braços levantados no interior. Data de -1050/-900
e é bem possível que represente o aspecto dos primeiros templos gregos.
O conjunto de colunas que mais tarde caracterizaria os templos arcaicos e clássicos,
o períptero (gr. περίπτερος),
demoraria a aparecer. Da Idade das Trevas, com alguma certeza, são conhecidos somente o
pequeno templo de Hera (heraion), em Peracora (perto de Corinto); o santuário de
Apolo Dafnéforo, em Erétria; e o primeiro heraion de Samos.
O heraion de Peracora e o santuário de Apolo de Erétria, datados de -800/-750,
mais ou menos, eram pequenos, tinham plano apsidal[2] e
nenhuma evidência conclusiva de colunas. A julgar pelo que sabemos das casas da época,
a estrutura era de madeira e o telhado, de duas águas.
O hekatompedon[3] I de Samos, dedicado a Hera e
datado do início do século -VIII, tem evidências inequívocas da presença
de colunas, mas não à sua volta. Era retangular, alongado, e tinha paredes de tijolos
de barro com embasamento de pedras baixas. Uma linha de colunas de madeira em seu
interior suportava o teto, e a estátua da deusa firmava-se aparentemente
sobre um simples pedestal de pedras achatadas. O telhado era provavelmente plano.