Heládico Recente: os micênios até -1400
Evolução cultural dos principais centros micênicos nos primeiros séculos do Heládico Médio.
Sumário
A cultura micênica, desenvolvida a partir da crescente interação entre mínios e
cretenses de
A transição do Heládico Médio (mínios
) para o Heládico
Recente (micênios
)
A evidência mais marcante dessa passagem foi o progressivo enriquecimento material de algumas comunidades no fim do Heládico Médio, representado pelo riquíssimo mobiliário fúnebre encontrado em Micenas, na Argólida, e em vários locais da Messênia.
Características da cultura miniana continuaram, todavia, presentes durante muito tempo em toda parte, notadamente na Tessália, região afastada dos principais centros culturais micênicos.
A arquitetura fúnebre
A maioria dos sepultamentos era efetuada em fossas simples e em
Os túmulos de poço do Círculo Tumular A de Micenas, datados de
O recinto dos túmulos de câmara, escavado em uma rocha ou em uma encosta, tinha
formato muito variável, com entrada (stomion) e corredor de acesso
(dromos). O
Escultura e cerâmica
As únicas peças de escultura monumental do período são as treze estelas de pedra que
marcavam as sepulturas do Círculo Tumular A de Micenas, com
A cerâmica miniana e a cerâmica de “fundo mate”, características do Heládico
Médio, continuaram sendo produzidas em grande quantidade, ao lado de simples imitações
de vasos cretenses. Os primeiros vasos eminentemente micênicos, encontrados apenas no
Peloponeso, mostram a fusão de elementos continentais, cretenses e cicládicos. Por
volta de
Há evidências de uma pequena produção de vasos e objetos de faiança na Argólida.
Joias e outros objetos
As ferramentas não evidenciam nenhuma evolução significativa; o armamento, por outro lado, progrediu intensamente. Facas, punhais, espadas curtas e longas (uma novidade no continente), lanças, capacetes de dentes de javali (mencionados por Homero), escudos em oito e de forma cilíndrica, assim como carros de combate, evidenciam a mentalidade guerreira das comunidades ou, pelo menos, das elites.
As joias, adereços, gemas gravadas e numerosos objetos de luxo, encontrados principalmente nas ricas sepulturas do Círculo Tumular A, mostram grande predominância da estética e das técnicas minoicas. São notáveis os diademas, os pequenos discos de ouro gravados, as armas de aparato e as taças de ouro e de prata.
Aglomerações urbanas e economia
A despeito de sérias lacunas em nossos conhecimentos, há evidências de expansão demográfica em diversos sítios que já existiam no Heládico Médio, notadamente no Peloponeso. As concentrações mais significativas foram detectadas em locais que, mais tarde, iriam se transformar em centros de poder: Micenas, Pilos, Tebas e Orcômeno. As características básicas dos edifícios e das aglomerações urbanas, por outro lado, continuaram praticamente as mesmas do Heládico Médio, exceto talvez pelo maior tamanho de alguns edifícios.
O aumento demográfico pode refletir melhores condições econômicas da população, que
continuava vivendo basicamente da agricultura. Em Lerna, foi introduzido o sistema
tripartido de culturas (oliveira, vinha e cereais) praticado há muito tempo em Creta e
nas Cíclades. Em Laurion (Ática) as minas de chumbo argentífero começaram a ser
exploradas pouco antes de
Além dos intensivos contatos com as comunidades cretenses e cicládicas, há evidências de contatos com o Oriente Médio (Fenícia, Egito, Chipre), com Troia VI e com a Europa Ocidental. Não há provas, porém, de que os micênios já dispusessem de marinha mercante de longo curso nessa época; é possível, portanto, que praticamente todos os contatos através do Egeu tenham sido intermediados pelos cretenses, então em seu apogeu. As trocas com a Europa Ocidental podem não ter ocorrido, igualmente, de forma direta.
Estrutura social
As mais significativas mudanças no estilo de vida das comunidades parecem ter se
dado somente no âmbito dos construtores das sofisticadas estruturas fúnebres da
Argólida e da Messênia. A espantosa riqueza dos túmulos, assim como as superiores
condições físicas dos corpos sepultados, sugerem que esses homens e mulheres ocuparam
os mais elevados estratos sociais da comunidade. Pela quantidade desses túmulos, várias
famílias tinham podem aquisitivo e, possivelmente, influência bastante para representar
o que poderíamos chamar de classe dirigente
. Se os enterros múltiplos eventualmente
representam dinastias locais, havia seguramente mais de uma. Não há nenhuma evidência,
até hoje, de centralização política ou econômica de qualquer natureza.
Discute-se ainda e com certa veemência a origem das riquezas
ostentadas pela elite micênica, sucessora dos chefes
comunitários do Heládico Médio.
Dada a grande quantidade de armas encontradas nos túmulos, é lícito supor que as
atividades militares tenham sido pelo menos um dos fatores envolvidos. Segundo Martin
(1996, p. 27), um possível reflexo dessa sociedade pode ser encontrado na
Ilíada: os belicosos heróis do poema de Homero viviam longe de casa (...),
sempre interessados em saquear Troia e outros locais
. Uma taça de prata com relevos,
encontrada no túmulo IV do Círculo Tumular A, representa efetivamente uma cidade
fortificada sitiada por soldados.
Além da classe dirigente, há evidências da existência de uma classe de artesãos especializados que confeccionava vasos e objetos de luxo destinados, certamente, às diversas elites.
Religião
O único local de culto conhecido é o do Monte Kynortion, próximo de Epidauro, porém não há semelhanças evidentes com os cultos minoicos em locais elevados. Alguns objetos encontrados em tumbas sugerem a possibilidade de uma tradição religiosa puramente local, sem conexão com a cultura minoica, mas há realmente pouquíssimos elementos para qualquer conclusão.