As biografias (do gr. βίος, 'vida'),
que em nossos dias constituem um gênero aparentado à historiografia, na Grécia Antiga devem ser conceituadas de forma
muito mais literária
e muito menos histórica
do que as modernas biografias.
Galeno de Pérgamo
Tanto as anônimas Vidas (lat. uitae) anexadas aos
manuscritos de filósofos, poetas, escritores e historiadores, quanto os detalhados relatos de Plutarco (46/120)
e de Diógenes Laércio (200/250) sobre personagens históricos são, em grande parte, exagerados, fictícios ou, com frequência,
baseados apenas em extravagantes anedotas.
Em alguns casos, e.g. na Ciropédia de Xenofonte (c. -428/-355) e nos anônimos relatos sobre a vida de
Alexandre III, iniciados possivelmente pelo Pseudo-Calístrato (sæc. -III),
a biografia grega se mistura extensivamente com o romance histórico. A Vida de Apolônio, de Filóstrato (172/250),
é um caso à parte, pois tem pontos de contato com o romance histórico e com a hagiografia.[1]
Em certa medida, a Odisseia de Homero é o mais antigo texto conhecido a respeito da vida de alguém:
dados sobre o nascimento, a juventude, o casamento e as principais aventuras do herói Odisseu
são fornecidos ao longo do poema, embora de forma não sistemática. Pequenas biografias de personagens certamente históricos, por sua vez,
podem sem encontradas em Heródoto (-484/-425), em Tucídides (c. -460/-400), em Isócrates (-436/-338)
e em muitos outros autores clássicos, helenísticos e do Período Greco-romano.
Nem todos os autores de biografias, curtas ou extensas, são bem conhecidos por nós e de alguns deles restam apenas
fragmentos e curtas passagens: Estesímbroto (c. -470/-420), Ptolomeu I Sóter (-367/-282), Dicearco (c. -350/-285),
Aristóxenes de Tarento (fl. -335), Antígono de Caristo (fl. sæc. -III) e Sátiro (fl. sæc. -II).
O médico Galeno (129/204) parece ter sido o primeiro a escrever formalmente uma autobiografia mas, muito antes dele, os
fragmentos dos poetas líricos arcaicos e a Anábase de Xenofonte contêm, obviamente, numerosos elementos autobiográficos.
Note-se, finalmente, que os relatos do Novo Testamento sobre a vida de Jesus Cristo (-7/30) também devem ser,
do ponto de vista literário e histórico, incluídos nesse abrangente e heterogêneo gênero que intitulamos, sem
nenhuma precisão, biografia grega
.