Os apócrifos do Novo Testamento

siglas diversasSæc. II / ?
Papiro com o Evangelho de TomásPapiro com o Evangelho de Tomás

Coletânea de textos anônimos escritos nos primeiros séculos do cristianismo, não reconhecidos pelo cristianismo ortodoxo e por isso não incluídos na Bíblia.

Aos apócrifos do Novo Testamento, também chamados de evangelhos apócrifos (gr. Ἀπόκρυφα, lat. Apocrypha), se opõe o grupo dos textos canônicos, i.e., oficialmente considerados autênticos por autoridades religiosas e incluídos no Novo Testamento.

Os apócrifos foram criados depois do século II, provavelmente. A primeira separação entre os dois grupos data de 325 e foi determinada pelo Primeiro Concílio de Niceia, convocado pelo imperador romano Constantino I, que havia aderido ao cristianismo. A separação atual foi imposta pelo Concílio de Trento, convocado pelo Papa Paulo III, representante máximo da Igreja Católica, entre 1545 e 1563.

O termo grego apócrifo significa, literalmente, ‘coisa escondida’. A palavra adquiriu conotação eminentemente negativa a partir do Concílio de Trento e “apócrifo” se tornou sinônimo de espúrio ou falso[1].

É notável, no entanto, que entre os diversos ramos do cristianismo há controvérsias a respeito de quais são, efetivamente, os textos apócrifos. A Igreja Ortodoxa da Etiópia, por exemplo, considera autêntico o Pastor de Hermas (sæc. II) e a Peshitta, bíblia da Igreja Siríaca, utilizada por muitas Igrejas da Síria, não inclui o Apocalipse de [João].

Textos principais

Os temas mais comuns dos apócrifos do Novo Testamento são os relatos dos primeiros anos e ensinamentos de Jesus Cristo (c. -7/30), além da descrição de episódios pouco conhecidos de sua vida, da vida de sua família e dos apóstolos.

Alguns têm natureza doutrinária e tratam, entre outras coisas, da natureza de Deus ou constituem versões rivais dos evangelhos canônicos. Muitos foram escritos por autores pertencentes às diversas seitas gnósticas[2] em que se dividiu o cristianismo nos primeiros séculos de existência.

Eis uma pequena lista dos textos (evangelhos) mais conhecidos:

A infância de Jesus
Proto-evangelho de Tiago[3], Evangelho da Infância de Tomás, Evangelho da infância do Pseudo-Mateus, História de José, o Carpinteiro, Vida de João Batista
Alternativos
Evangelhos de Marcion, Mani, Appelles, Bardesanes, Basilides, Cerinto e Tomás
Paixão de Cristo[4]
Evangelhos de Pedro, Nicodemo (= Atos de Pilares) e Bartolomeu, e A Ressurreição de Jesus Cristo
Textos gnósticos
o Livro secreto de Tiago, o Livro de Tomás, o Contendor, o Diálogo do Salvador, os Evangelhos de Judas, de Maria Madalena e de Felipe, o Evangelho da Verdade, O Apocalipse Gnóstico de Pedro, o Evangelho Secreto de João
Atos dos apóstolos
Atos de André, Barnabé, João, dos Mártires, de Paulo, de Pedro, de Pedro e André, de Pedro e Paulo, de Felipe, de Tomás
Epístolas[5]
Epístolas de Clemente, dos Coríntios a Paulo, de Ignácio aos esmirneus e aos trálios, de Policarpo aos felipenses, a Sêneca, o Jovem, e Terceira Epístola aos Coríntios
Apocalipses
Apocalipse de Paulo, de Pedro, do Pseudo-Metódio, de Tomás, de Estevão, de Tiago (há 2 textos) e O Pastor, de Hermas
Diversos
sobre o destino de Maria (há mais de 50 textos), Constituições Apostólicas, Cânones dos Apóstolos, Liturgia de São Tiago, Prece de Paulo, Ensinamento (possivelmente, o primeiro catecismo)

Manuscritos, edições, traduções

A tradição papirológica e manuscrita, como era de se esperar, é muito extensa e de qualidade irregular. Não há, ainda, uma edição única de todos os textos conhecidos; as mais completas e mais usadas pelos estudiosos são a de James (Oxford, 1924), a de Metzger (Oxford, 1987) e a de Schneemelcher (Westminster, 61989, 2 v.).

Em português, dispomos apenas de traduções de textos selecionados, reunidos em coletâneas parciais (ver Leituras recomendadas, infra); a Editora Vozes, por outro lado, têm publicado alguns apócrifos de forma avulsa. Infelizmente, não tive ainda a oportunidade de verificar, nessas publicações, quais foram traduzidos diretamente do grego.