Ésquilo / Coéforas 519-52

Aesch. Ch. 519-52 -458
tradução / grego antigo

O trecho selecionado é um excerto do diálogo entre Orestes e o Coro, em que o Corinfeu relata o funesto sonho de Clitemnestra. Note-se a crescente ansiedade de Orestes, refletida pela esticomitia[1].

A tradução foi publicada em 2004 por JAA Torrano, que gentilmente autorizou sua reprodução no Portal.

ORESTES  As dádivas são menores do que o delito, 520  pois, se tudo se verte em paga do sangue  de um só, é frustra fatiga. Assim se fala.  Desejo que, se é que sabes, conte-me isto. CORO  Sei, ó filho, pois presenciei: por sonhos  e por noctívagos terrores sacudida 525  a ímpia mulher enviou estas libações. Or.Soubeste do sonho de modo a contá-lo exato? Co.Pareceu-lhe parir serpente, ela mesma fala. Or.E aonde vai terminar e concluir a fala? Co.Atou com faixas como a uma criança. 530 Or.E quem nutria o recém-nascido monstro? Co.Ela mesma lhe deu o seio no sonho. Or.E como ficou ileso o úbere sob o horror? Co.Sorveram-se com leite coágulos de sangue. Or.Esta visão não lhe poderia vir em vão. 535 Co.Ela do sono lançou um grito de pavor.  Muitas candeias já cegas pelas trevas  refulgiam no palácio graças à senhora,  e envia então estas sepulcrais libações  esperando o remédio cortar as dores. 540 Or.Suplico à terra e ao túmulo paterno  que este sonho me seja portador de remate.  Interpreto-o de modo a ser congruente:  se surgiu do mesmo lugar que eu  a serpente enfaixada como criança 545  abocanhava o seio que me nutriu  e mesclou leite a coágulos de sangue  e ela apavorada pranteava este mal,  porque nutriu hórrido prodígio, deve  ter morte violenta e tornado serpente 550  eu mato-a — como conta este sonho. Co.Elejo-te por isto perito em prodígio:  assim seja! Explica o mais aos amigos.