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As tiranias gregas

A tirania era um sistema de governo oligárquico dos séculos -VII e -VI, no qual uma única pessoa assumia ilegalmente o poder e se mantinha com o apoio de aristocratas e, muitas vezes, dos cidadãos comuns.

miniaturaPeriandro de Corinto,
fl. -627/-584

A palavra “tirania” (gr. τυραννίς) é de origem lídia e foi utilizada pela primeira vez por Arquíloco de Paros (F 19.3). Na Grécia Antiga ela se refere a um governante absoluto, sem direito dinástico ao poder e que o assumiu à revelia das disposições legais da pólis.

Para assumir o poder, o tirano (gr. τύραννος) usualmente se aproveitava da insatisfação popular e da hostilidade contra a preponderância político-social da aristocracia, muitas vezes intensificadas por conflitos e rivalidades entre as próprias famílias aristocráticas.

Embora muitos tiranos necessitassem posteriormente de uma guarda pessoal, mantinham-se no poder basicamente devido ao apoio de seus partidários aristocratas e a medidas populares que beneficiavam os cidadãos de baixa renda.

Tabela 1. Principais tiranos arcaicos PóleisTiranosDatas Corinto Cípselo -657/-627   Periandro -627/-585 Sicíon Ortágoras c. -650   Clístenes -600/-565 Mégara Teágenes -650/-600? Atenas Psístrato -561/-527   Hípias -527/-510 Mileto Anfitres sæc. -vii Samos Polícrates -532/-522? Éfeso Pitágorasc. -600 Naxos Lígdamo c. -550

Não houve, durante o governo desses aristocratas, transformações de monta nas instituições. O tirano simplesmente assumia algumas funções importantes, já estabelecidas, e colocava seus partidários em outras; a justiça e as leis continuavam a ser implementadas e cumpridas.

Em alguns casos também ocorreu uma certa redistribuição de terras, naturalmente confiscadas dos ricos proprietários que se opunham aos tiranos. Com isso, muitos pequenos proprietários foram estimulados a continuar no campo.

No geral, essa foi uma época de riqueza e prosperidade, consequência da paz interna, dos estímulos à atividade comercial, de grandes obras públicas e do incentivo a cultos de apelo mais popular, como o culto a Dioniso em Atenas.

A prosperidade ensejou gastos públicos maiores e até algumas extravagâncias, como a reorganização de festas cívicas tradicionais, oferendas faustosas a templos e santuários, exibicionismos nos jogos atléticos, patrocínio a poetas e artistas. Por outro lado, leis sumptuárias refrearam os exibicionismos dos mais ricos.

A médio prazo, a tirania contribuiu para a quebra dos privilégios políticos e morais da aristocracia.

Décadas depois de sua instituição, a tirania começou a desaparecer, substituída por outros sistemas políticos. Os tiranos haviam sido “necessários” para a resolução dos conflitos das póleis arcaicas, mas quando as crises se resolveram, foram simplesmente apeados do poder, às vezes com violência.

Os tiranos auxiliavam, quando possível, os tiranos de outras cidades e faziam alianças matrimoniais com outras famílias de tiranos. Os mais bem sucedidos tentaram instituir dinastias e passar o poder aos filhos, mas nenhuma tirania ultrapassou a segunda ou terceira geração.

A despeito da estabilização social, política e econômica que muitas tiranias produziram, as gerações posteriores conservaram uma imagem extremamente negativa da instituição, como se vê em Heródoto (5.92) e em numerosas passagens das tragédias gregas (Ribeiro Jr." 2014). A tradição também perpetuou vários relatos de abusos cometidos pelos tiranos em proveito próprio, usualmente do ponto de vista dos aristocratas que não os apoiavam. No século -IV, Platão (República, 562a-580c) discorreu longamente a respeito dos males da tirania, e Aristóteles (Política 1279a-1280a; 1294a; 1295a; 1310b) tratou de formas de governo boas e más, mencionando a tirania como exemplo do tipo mau.

Tiranos como Pítaco de Mitilene e Periandro de Corinto, por outro lado, apareciam nas listas dos sete sábios da Grécia devido à sua alegada benevolência e sabedoria, e Heródoto (1.96; 1.100) destacou alguns aspectos positivos desse sistema político.