Timocles justapõe, neste saboroso fragmento da comédia Mulheres que celebram as Dionísias (gr. Διονυσιάζουσαι), personagens de tragédias célebres.
Ele procurou demonstrar, de forma cômica, que a tragédia tem efeito consolatório e terapêutico, e que seus atrativos alcançam também o homem comum.
Tradução apresentada no VI Colóquio do grupo de pesquisa “Estudos sobre o Teatro Antigo” (São Paulo, USP, 21/03/2017).
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Meu caro, ouve e considera o que vou te dizer.
O homem é, por natureza, um animal sofredor
e a vida traz, em si mesma, muitas dores;
assim, ele encontrou para as preocupações estes
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alívios, pois a mente das pessoas deixa de notá-las
ao ser distraída pelo que ocorre a outrem,
e com satisfação se distancia e ao mesmo tempo se instrui.
Primeiro, se queres, examina os poetas trágicos:
como ajudam a todos! Aquele que é pobre,
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ao observar que Télefo é mais pobre do que ele,
já suporta melhor a pobreza.
Aquele está um tanto louco? Examina Alcmeon.
Alguém sofre de oftalmia? Os filhos de Fineu são cegos.
O filho está morto? Níobe alivia suas penas.
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Alguém está mancando? Olha só Filoctetes.
Alguém é desafortunado na velhice? Observa Eneu.
Quando alguém percebe que essas coisas são piores
e que os outros são mais desafortunados, reflete...
e se queixa menos dos próprios infortúnios.
N.B.
Considerando-se o prestígio e o impacto das tragédias de cada autor na Antiguidade, acredito que os personagens citados por Timocles podem ser atribuídos sem dificuldade às seguintes tragédias homônimas: Télefo, Alcmeon e Eneu de Eurípides; Fineu e Níobe, de Ésquilo; e Filoctetes, de Sófocles. Com exceção do Filoctetes sofocliano, desses dramas restam apenas alguns fragmentos.