Dedicada notadamente à dialética, a escola[1] megarense
foi fundada por um dos discípulos mais velhos de Sócrates, Euclides de Mégara.
Infelizmente sabemos pouquíssimo sobre essa vertente filosófica,
pois nossa principal fonte, Diógenes Laércio (2.106-12), quase só
transmite informações de natureza anedótica. Dispomos de tão pouca coisa sobre os
filósofos da escola que não há nem mesmo abreviaturas registradas para a citação de
suas obras.
“Euclides de Mégara”
Euclides de Mégara (gr. Εὐκλείδης) nasceu por
volta de -450 e faleceu, provavelmente, em -375. Durante a
Idade Média, foi frequentemente confundido com o matemático Euclides de Alexandria (cf. iluminura). Antes de se tornar discípulo de
Sócrates, Euclides estudou as doutrinas e as técnicas dialéticas dos eleatas. Após a
morte do mestre, em -399, refugiou-se em Mégara, sua cidade
natal, onde protegeu muitos outros discípulos e fundou a escola megarense ou
megárica.
Segundo a tradição, escreveu seis diálogos, provavelmente acompanhando o estilo de
Platão e de Xenofonte, mas nenhum chegou até nós. Conhecemos suas ideias através de
citações de escritores que viveram muito tempo depois dele. Aparentemente, ele uniu o
dogma eleático do "Uno" indivisível, estático e eterno, ao conceito do "Bem", à ética e
à dialética de Sócrates. Euclides negava, pura e simplesmente, a existência de tudo o
que era contrário ao Bem. Dentre seus seguidores e sucessores, os mais importantes
foram Eubulides e Estílpon.
Eubulides de Mileto (gr. Εὐβουλίδης),
possivelmente um contemporâneo de Aristóteles, desenvolveu diversos
silogismos[2] capciosos contra o pensamento
de Platão e, especialmente, o de Aristóteles. A ele foi atribuído, tradicionalmente, um
dos mais famosos, o "paradoxo do mentiroso" (Aristóteles, SE 180b, Cic. Acad.
95 e D.L. 2.108): alguém, ao dizer que é mentiroso, está dizendo a verdade
ou está mentindo?
Estílpon de Mégara (gr. Στίλπων), contemporâneo de
Teofrasto, era filho de Pasicles de Tebas, um dos discípulos de Euclides de Mégara, e
foi discípulo de Eubulides. Era um homem gentil, paciente, de elevados sentimentos
(Plu. Adv. Col. 1119c) e um tanto chegado ao vinho e à voluptuosidade (Cic.
Fat. 5). Passou algum tempo em Atenas, onde adquiriu grande popularidade.
Depreeende-se que recorria frequentemente a controvérsias, e que
sustentava, por exemplo, que coisas universais não podem ser percebidas através do
conhecimento daquilo que é individual e concreto (D.L. 2.119). Escreveu
diálogos que também não sobreviveram.