Orador e político ateniense, um dos mais antigos do cânone alexandrino de dez oradores áticos.
Sumário
Vida
Andócides, filho de Leógoras, nasceu por volta de -440 em antiga e próspera família ateniense. Teve boa educação, mas não há evidência
de que tenha recebido treinamento específico na arte da oratória.
Em -415, ele e sua fraternidade (gr. ἑταιρεία) de jovens com tendências oligárquicas se envolveram
nos escândalos da mutilação dos hermes
e da profanação dos mistérios de Elêusis
, pouco antes da partida da fracassada expedição ateniense à Sicília. Preso, Andócides forneceu informações sobre os demais implicados para se salvar e acabou sendo libertado, mas foi impedido de participar das atividades cívicas e preferiu sair de Atenas.
Um hermes
Viveu prosperamente como bem-sucedido mercador e em -411 tentou retornar à pólis, justamente por ocasião do golpe oligárquico dos Quatrocentos, alguns dos quais pertenciam a famílias prejudicadas por suas informações. Encarcerado e maltratado na prisão, foi libertado com o fim do golpe e voltou às suas atividades comerciais.
Esteve preso em Chipre por algum tempo, devido a desentendimentos com o rei Evágoras, e em -410 ou -408 pleiteou seu retorno através do discurso Sobre o Retorno, sem sucesso. Conseguiu seu intento em -403, graças à anistia geral que seguiu a queda dos Trinta, e durante alguns anos participou ativamente da vida pública. Em -400 ou -399 foi acusado de impiedade por alguns desafetos, mas conseguiu ser absolvido graças ao discurso que proferiu em sua defesa, Sobre os Mistérios.
Permaneceu em Atenas pelo menos até -392, quando participou de embaixada enviada a Esparta e discursou a favor do
tratado de paz em negociação (Sobre a paz). Os termos não foram, contudo, aceitos pelos atenienses e todos os embaixadores foram exilados, ou Andócides preferiu deixar Atenas para escapar da condenação.
Nada se sabe dele depois dessa data.
As fontes mais importantes sobre a vida de Andócides são suas próprias obras. Ver também Tucídides 6.60; [Lísias] 6 — o discurso contra Andócides, proferido por um dos acusadores de -399 —; Plutarco, Temístocles 32.3; [Plutarco], Vida dos dez oradores 834b-835b; Filocoro, FGrH 328 F 149a.
Obra
Os discursos que chegaram até nós, os mais antigos exemplos de retórica prática, foram pronunciados por ele mesmo em seu próprio
interesse e defesa: Sobre seu Retorno (-410), Sobre os Mistérios (-399) e Sobre a Paz (-392). Há fragmentos de pelo menos outros quatro, um deles intitulado Sobre a fraternidade.
O discurso Contra Alcibíades, que seria anterior a -415, é certamente apócrifo.
Esses escritos são uma fonte preciosa dos processos políticos e culturais de Atenas no final do século -V e início do século -IV. Os estudiosos modernos não confiam, todavia, na exatidão do orador quanto às leis citadas por ele.
Andócides era um mercador bem sucedido e não um orador profissional; seu estilo é
simples, sóbrio, vivaz e desprovido dos recursos retóricos habituais. A narrativa é fluida e colorida, particularmente nos ataques a seus oponentes, e bem próxima da língua falada no dia a dia. Por outro lado, ele às vezes se perde nos argumentos e faz digressões tortuosas e longas demais.
Os discursos são bem construídos, mas o estilo de Andócides não agradava os críticos da Antiguidade. Era pouco citado e os discursos não eram considerados modelos a serem seguidos (Sikorski 2013, p. 34).
Durante o Período Greco-romano, Dionísio de Halicarnasso comparou-o favoravelmente a Antifonte e Lísias (Sobre Tucídides 51 e Sobre Lísias 2), e o Pseudo-Plutarco (Vida dos dez oradores 835b) especificou que seu estilo era simples e sem ornamentos retóricos. Quintiliano (12.10.21) considerava-o antigo e ultrapassado. Consta (Suda, s.v. Θέων) que um certo Valerius Theon escreveu um comentário sobre as orações de Andócides e, no século II, Filóstrato (2.1.14) e Hermógenes (2.403) criticaram duramente sua técnica e seu estilo; para Hermógenes, “ele não tem quase nenhum poder de oratória”.
Manuscritos, edições, traduções
O principal manuscrito com as obras de Andócides e o espúrio Contra Alcibíades é o Codex Crippsianus (Burneianus 95), do século XIV, conservado atualmente na Biblioteca Britânica, Londres. A editio princeps é a Aldina, de 1513.
Edições padrão modernas: Michael Edwards (Warminster, 1995); Mervin R. Dilts e David J. Murphy (OCT, 2018).
Existe uma tradução de Samuel Ferreira dos Santos de todos os discursos, sem data e sem outras informações.