Orfeu

O mais conhecido dos músicos lendários da Grécia Antiga, objeto de grande número de mitos um tanto divergentes.

miniaturaHermes, Eurídice e Orfeu

Orfeu (gr. Όρφεύς) era filho da musa Calíope e de Eagro, rei da Trácia. Vivia perto do Monte Olimpo, na Tessália, e aprendeu a arte com o próprio Apolo.

Tornou-se um cantor maravilhoso e tocava divinamente a lira e a cítara, instrumento este cuja invenção lhe é atribuída. Ao ouví-lo cantar as feras o seguiam, as árvores se inclinavam em sua direção e até os homens mais irascíveis se acalmavam.

Orfeu e Eurídice

A mais famosa lenda de que participa é a da descida ao hades à procura de sua esposa Eurídice, que havia morrido acidentalmente, picada por uma serpente. Com sua arte, Orfeu encantou monstros, as sombras dos mortos, o barqueiro Caronte e até os deuses infernais, Hades e Perséfone. Eles então aceitaram devolver Eurídice aos vivos, desde que o poeta deixasse o Hades, seguido por ela, sem olhar para trás uma única vez.

Atormentado pela dúvida, Orfeu não resistiu e pouco antes de sair olhou para trás... e Eurídice teve que retornar ao mundo dos mortos. O desolado músico, por sua vez, voltou ao mundo dos vivos.

A morte de Orfeu

Orfeu participou da famosa expedição dos Argonautas, não se sabe se antes ou depois da morte de Eurídice. Durante a viagem, apaziguava as ondas com sua música e, por meio dela, conseguiu anular o efeito do hipnótico canto das sereias e salvar o navio.

Algum tempo depois, por razões mal esclarecidas pelas diversas lendas, morreu esquartejado por um grupo de mulheres enfurecidas, as mênades. A cabeça de Orfeu caiu no mar e chegou até a ilha de Lesbos, onde os habitantes ergueram-lhe um túmulo de onde, dizia-se, era possível ouvir com frequência o som de uma lira...

Orfeu foi levado aos Campos Elíseos[1] e lá entretinha os bem-aventurados com sua música. Sua lira foi transformada pelos deuses em constelação.

Representações e culto

Na iconografia grega antiga, Orfeu era representado cantando com uma lira ou uma cítara, em geral no momento de sua morte às mãos das bacantes (vasos de figuras vermelhas posteriores a -500). Os mosaicos romanos mostravam-no com frequência ao lado de animais selvagens, embevecidos com sua música.

A morte de Orfeu e seu desmembramento foi tema muito explorado pelos pintores de vasos e pelos artistas neoclássicos.

Durante o século -VI, Orfeu foi associado a um culto de mistérios muito popular que preconizava a origem divina da alma e a reincarnação, conceito mencionado igualmente pelos pitagóricos e, mais tarde, por Platão. Segundo a tradição, foi ele quem fez as revelações místicas fundamentais aos iniciados, que aprendera durante sua descida ao Hades.

Uma literatura esotérica, baseada nos preceitos órficos, floresceu durante o Período Helenístico. O mito de Orfeu influenciou também o cristianismo primitivo e está atestado, inclusive, na iconografia cristã.