O diálogo a seguir, o terceiro da edição grega, mostra o filósofo cínico Menipo perseguindo, com suas zombarias, Creso, Midas e Sardanápalo, famosos em vida pela riqueza, pelo ouro e pela luxúria, respectivamente.
O texto foi traduzido e já publicado por Maria Celeste Consolin Dezotti, que gentilmente autorizou sua reprodução no Portal.
CRESO
Plutão, não estamos mais suportando o Menipo, esse cão aí, como nosso vizinho. Por isso, ou você o instala em algum outro canto, ou nós nos mudaremos para um outro lugar.
PLUTÃO
O que está ele fazendo de anormal, se é um morto como vocês?
Cr.Cada vez que nos lamentamos e gememos, com a lembrança das coisas lá de cima o Midas aí, do seu ouro, o Sardanápalo, da sua luxúria, e eu, Creso, dos meus tesouros ele ri e nos vitupera, chamando-nos de escravos e de escória. E às vezes até atrapalha nossos gemidos com umas cantorias. Em suma, ele é um chato!
Pl.O que é isso que eles estão dizendo, Menipo?
MENIPO
A verdade, Plutão. Eu os detesto, por que são uns ordinários, uns miseráveis! Não lhes bastou ter vivido uma vida abominável, e mesmo depois de mortos ainda conservam na lembrança as coisas lá de cima e não se desapegam delas. É por isso que eu me divirto, azucrinando-os.
Pl.Mas não é preciso. Eles estão penando, privados de seus bens. E não de poucos!
Me.Você também está ficando doido, Plutão, dando apoio às lamúrias dessa gente?
Pl.De jeito nenhum. Eu não queria era que vocês se desentendessem.
Me.[2] Pois bem. Vocês, os piores dentre lídios, frígios e assírios, decidam-se, por que eu não vou parar. Seja lá para onde forem, eu vou atrás, cantarolando e zombando de vocês.
Cr.Isso não é um exagero?
Me.Não. Exagero é o que faziam vocês, exigindo reverências, abusando de homens livres, sem sequer sonhar com a morte. É por isso que vão gemer, privados de tudo aquilo.
Cr.De muitos e magníficos bens, ó deuses!
MIDAS
E eu, de quanto ouro!
SARDANÁPALO
E eu, de quanta luxúria!
Me.Muito bem! Continuem assim! Fiquem chorando vocês que eu vou fazendo o acompanhamento, cantarolando sem parar o conhece-te a ti mesmo
. É um acalanto que combina bem com semelhantes choradeiras.