Heródoto / Histórias 3.129-34
Neste trecho do Livro III, Heródoto relata as aventuras de Demócedes, expoente da medicina de Crotona, pólis da Magna Graecia.
A tradução é de Mário da Gama Kury (1985)[1].
129. Não muito tempo depois o rei Dario sofreu um acidente enquanto
caçava feras; apeando de seu cavalo ele sofreu um enorme entorse no pé; o entorse
foi tão violento que lhe desarticulou o tornozelo. Dario costumava ter ao seu
lado, de longa data, uns egípcios considerados os primeiros na arte da medicina,
e então recorreu ao seus cuidados. Mas movendo brutalmente o pé do rei eles
fizeram um mal ainda maior, e durante sete dias e noites o rei não conseguia
dormir por causa da dor; no oitavo dia seu estado era o pior possível, quando
alguém, que ouvira falar, em Sárdis, da competência do crotoniata Demócedes,
mencionou o seu nome a Dario; este mandou
130. (...) Dario
131. Esse Demócedes tinha vindo de Crotona e travado
relações com Polícrates da seguinte maneira: ele se dava mal, em Crotona, com seu
pai, de trato difícil por causa de seu gênio colérico; não o suportando mais,
Demócedes o deixou e foi para Egina. Instalado lá, já no primeiro ano de estada
ele sobrepujava todos os outros médicos, embora desprovido de instrumentos e do
material necessário ao exercício da profissão. Em seu segundo ano de estada os
eginetas lhe pagavam um talento para ser seu médico oficial; no terceiro ano os
atenienses o contrataram por cem minas, e no quarto ano Polícrates o contratou
por dois talentos. Assim ele chegou a Samos, e a fama dos médicos crotoniatas
133. (...) Atossa, filha de Ciro e mulher de Dario, descobriu um tumor em seu seio, que supurou mas se alastrava cada vez mais; enquanto o tumor era pequeno, ela o ocultava por pudor e nada dizia, mas quando o seu estado se agravou Atossa mandou chamar Demócedes e lhe mostrou o tumor. (...)
134. Depois de cuidada e curada do mal, (...)