Por que estudar as culturas antigas?
A pergunta que inicia este programa é ampla: Por que estudar culturas antigas? Você pode sentir que a pergunta é discutível: estudantes estudam e estudarão culturas antigas; tal estudo é esperado como parte de uma tradição de desenvolvimento intelectual.
A resposta ao por que da pergunta inicial é que se trata de uma
questão de tradição, se não de um fato. Um estudo do
Provavelmente, sim. Mesmo hoje, com a pluralidade de abordagens ao estudo da
história e ao estudo das culturas, as pessoas falam a respeito de
Neste ponto, você faz a si mesmo estas duas perguntas adicionais: nós estudamos essas culturas por que, em certa extensão, todas as culturas compartilham certas características? Será que nossa própria cultura reflete aspectos dessas outras culturas?
A resposta à primeira das duas pergundas tem sido encontrada historicamente em uma discussão sobre universalidade. Considere, por um momento, o caso de Arjuna no Bhagavad Gîtâ[1]. Você pode muito bem perguntar como a batalha que Arjuna adia, imóvel em sua carruagem, se relaciona, por exemplo, com as batalhas contemporâneas da Segunda Guerra Mundial. Convencido de que seus parentes só morrerão nesta vida para renascer em outra, Arjuna pode então permitir, relutante, que a carnificina comece.
Tal escolha, por outro lado, não foi seguida por Schindler (mostrado no filme de Spielberg A Lista de Schlindler), cuja intervenção em benefício dos judeus salvou muita gente nesta vida. O perigo de procurar coisas universais, portanto, consiste em reformular outros pontos de vista possivelmente estranhos para ajustar o nosso. Precisamos sempre nos resguardar da suposição de que outras pessoas pensam como nós ou deveriam pensar. Arjuna fala dentro do contexto de sua cultura; Schindler age dentro dos limites de outra.
As diferenças entre as culturas têm, aqui, um grande interesse, e ler a respeito de
culturas antigas é ler a respeito de outras pessoas cujas vidas eram, certamente,
diferentes das nossas. A organização social da
É interessante que essas diferenças possam nos ajudar a ver melhor e conhecer os limites de nossa cultura e os limites da nossa linguagem e da nossa experiência.
O problema com a segunda pergunta reside em sua formulação. O que é, afinal
de contas, uma cultura? Este artigo e este programa prosseguem a partir da suposição de
que existe algum tipo de definição para a palavra cultura. A maioria das pessoas
atribui um valor abstrato à cultura aquilo que produz boa arte,
grande literatura, comportamento correto, etc. No entanto os critérios de
qualidade são escassamente internacionais ou
Será então a cultura alguma coisa que pode ser ensinada, ou suas partes constituintes são mais arrebatadoras e penetrantes do que aquilo que pode ser aprendido a partir de livros ou aulas? Respostas a esta segunda pergunta existem já na forma de cânones e listas de leitura, apesar de que hoje há muita discussão a respeito do que compõe essas listas de leitura e a respeito de suposições quanto ao que deveria ou não deveria ser apropriado a esse tipo de lista.
Muitas pessoas gostariam de imaginar a história como uma sucessão de movimentos ou estágios em uma progressiva (e, geralmente) sempre aperfeiçoada novela da vida humana. Para essas pessoas, o Romantismo é um período definível, suas dádivas ao espírito humano são calculáveis. Mas como pode uma cultura falar por todos os seus praticantes? Todas as pessoas têm a mesma participação na cultura da qual são uma parte?
É precisamente por que
Ao começar seu estudo das culturas antigas você poderá querer recordar essas perguntas enquanto modela para si mesmo um significado para o termo cultura. No processo, tente não medir os outros pelo seu próprio padrão cultural que, de muitos modos, formou você e sua compreensão do mundo. Ao invés disso tente, por um momento, ver a resplandecente cena de batalha com os olhos de Arjuna.