Nesta parte do 4º episódio, Odisseu avisa os sátiros, conforme combinado, que é hora de cegar o ciclope... Quando eles previsivelmente se acovardam, o herói pede que ao menos cantem para animar os homens de Ítaca. Para isso, os sátiros se separam em dois grupos, Coro A e Coro B.
ODISSEU
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Vamos lá, entrai e agarrai com as duas mãos
o tição, que ele está bem ardente!
CORO
Não vais designar quem deve ir na frente,
pegar a estaca candente e atiçar o olho
do Ciclope, para participarmos de seu sucesso?
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Co.a Estamos muito distantes da entrada
para ficar de pé e enfiar o fogo no olho dele.
Co.b E nós ficamos completamente mancos!
Co.aA mesma coisa me aconteceu; torcemos
os pés ao ficarmos de pé, não sei como.
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Od. Ao ficar de pé, torcestes ...?!
Co.a E meus olhos estão
cheios de poeira, ou de cinzas de algum lugar.
Od. Guerreiros covardes, aliados que de nada servem!
Co. Só porque das costas e da traseira nós cuidamos
e não queremos ter os dentes arrancados
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a pancada, trata-se de covardia?
Conheço, porém, um encantamento de Orfeu muito bom,
que faz a estaca flamejante, por si só, ir até
o crânio para incendiar o filho da Terra de um só olho[1].
Od. Eu de antemão sabia ser assim vossa natureza,
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mas agora a conheço melhor, e aos amigos de casa
devo recorrer. Mas se não tens força nas mãos,
pelo menos incita-nos, para ânimo
incutir nos amigos com esses teus comandos.
Co. Assim farei. Correremos o risco, por meio do Cário[2],
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E que, através de nossas exortações, o Ciclope vire fumaça!
Iô ô, empurrai com
bravura, apressai-vos, queimai a fronte
da fera que devora hóspedes!
Esfumaçai, ô, fazei arder, ô,
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o pastor do Etna!
Torcei, tirai, que tomado de dor
ele não faça algo profano!
CICLOPE
Ai de mim! Carbonizaram-me a luz do olho!
Co. Que lindo, esse peã[3]! Canta-o de novo para mim, Ciclope!