Coleção hipocrática / Da natureza do homem 2 e 4
As passagens selecionadas mostram o delineamento geral da teoria dos humores
e um dos famosos argumentos apresentados pelo autor do tratado, Pólibo
A tradução é de Henrique F. Cairus, professor de Língua e Literatura Grega da UFRJ, que gentilmente autorizou a reprodução de trechos de trabalho publicado (Cairus, 1999).
2. (...) Eu, de minha parte, digo que, se o homem fosse uma unidade, não haveria por que sofrer. Se realmente sofre, é necessário que haja também um único medicamento. Mas há muitos, pois há muitas substâncias no corpo, as quais, quando, contra a natureza, mutuamente se esfriam e se esquentam, e se secam e se umedecem, geram doenças; de tal modo que muitas são as formas (idéai) de doenças e seus tratamentos vários. (...)
4. O corpo do homem contém sangue, fleuma, bile amarela e negra esta é a natureza do corpo, através da qual adoece e tem saúde. Tem saúde, precisamente, quando estes humores são harmônicos em proporção, em propriedade e em quantidade, e sobretudo quando são misturados. O homem adoece quando há falta ou excesso de um desses humores, ou quando ele se separa no corpo e não se une aos demais. Pois é necessário que, quando um desses humores se separa e se desloca para adiante de seu lugar, não só este lugar donde se desloca adoeça, mas também o lugar no qual ele transborda, ultrapassando a medida, cause dor e sofrimento. E quando um desses humores flui para fora do corpo mais do que permite sua superabundância, a evacuação causa sofrimento. Se, por outro lado, for feita a evacuação, a metástase e a separação dos outros humores dentro do corpo, é forçoso que isto cause, conforme o que já foi dito, um duplo sofrimento: no lugar do qual se deslocou e no lugar em que superabundou.