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Heródoto / Histórias 1.196

Hdt. 1.195-6-450 / -430
tradução / grego antigo

Uma das mais interessantes historinhas de Heródoto, parte do lógos sobre a Babilônia e os antigos babilônios (1.177-200), é o curioso e utópico sistema de “casamento por leilão”.

miniaturaO mercado de casamento
da Babilônia

Não há, contudo, fundamento histórico nas informações veiculadas pelo historiador: pode se tratar apenas de uma fantasia ou de manifestação das ideias de Heródoto e/ou de seus informantes, possivelmente influenciados pelas propostas igualitárias de Faleas da Calcedônia (Aristóteles, Política 1266b); ver McNeal (1988); Asheri (2007, 1.196 ad loc.) e Griffiths (2007, p. 167).

A tradução da passagem 1.196, simples exercício publicado há vários anos (Ribeiro Jr. 2002), recebeu alguns ajustes após nova edição do texto grego.

195.2. (...) E estes são os costumes por eles estabelecidos.

1. (...) O mais sábio é este, em nossa opinião, e fui informado de que os ênetos[1] da Ilíria[2] também o seguem. Em cada aldeia, uma vez a cada ano, procediam deste modo: assim que as donzelas chegavam à época de casar, eram todas reunidas e levadas a um lugar e, em volta delas, uma multidão de homens ficava de pé.

2. Um arauto fazia, então, cada uma delas se levantar e colocava à venda, primeiro a mais bonita de todas e, assim que ela era vendida por muito ouro, anunciava outra, a que era mais bonita depois daquela; e elas eram vendidas para casamento[3]. Os que eram prósperos entre os babilônios e queriam se casar, ultrapassavam uns aos outros e compravam a (esposa) mais bela; os (homens) do povo[4] que queriam se casar e não tinham nenhuma utilidade para a aparência, podiam pegar as donzelas feias e dinheiro também.

3. De fato, quando o arauto terminava de vender as donzelas mais belas, fazia também se levantar a mais desgraciosa ou uma estropiada, se havia alguma, e a oferecia a quem, para pegá-la e viver com ela, queria a menor quantidade de dinheiro, até ela ser entregue como esposa ao que se comprometia pela menor quantidade. O dinheiro vinha das donzelas de belas formas e, desse modo, as bonitas propiciavam o casamento das feias e estropiadas. Não era permitido dar a própria filha em casamento a quem desejasse, nem levar para casa a donzela adquirida sem dar garantia; era necessário oferecer um fiador para garantir que iria viver com ela, e então 〈podia〉 levá-la.

4. E se eles não se dessem bem, o costume mandava devolver o dinheiro. Era também permitido, querendo, vir de outra aldeia para comprar.

5. Este era, portanto, o mais belo costume que eles tinham; atualmente, porém, não existe mais. Eles inventaram recentemente um outro, { para que as donzelas não fossem maltratadas e nem levadas para outra pólis }. (...)