Breve passagem do prólogo da tragédia Fenícias, de Eurípides.
Nesta passagem, declamada em trímetros
iâmbicos por Jocasta, Eurípides dá alguns detalhes do mito de Édipo e seus filhos.
A tradução é de Evandro Salvador (2011, p. 48-9).
JOCASTA
Mas quando soube que desfrutava do leito da mãe,
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Édipo, o que suportara tantos sofrimentos,
arroja contra seus próprios olhos um instrumento terrível,
sangrando suas pupilas com um broche feito de ouro.
E quando a bochecha dos filhos cobriu-se de barba,
eles trancafiaram o pai para que a Fortuna se tornasse esquecida
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das atrocidades, embora ela necessitasse de muitos engenhos para isso.
E ele está vivo no palácio. Por conta do que lhe ocorrera, demente,
proferiu contra seus filhos a mais ímpia maldição:
a de partilharem esta casa através da lâmina cortante.
E os dois, sucumbindo ante o temor de que os deuses a seu termo
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conduzissem a maldição enquanto vivessem sob o mesmo teto,
dispuseram, em comum acordo, que Polinices, o mais jovem,
deixasse primeiro e espontaneamente esta terra,
enquanto Etéocles empunharia o cetro de Tebas,
em regime alternado a cada ano. Mas quando estava sobre o assento
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do governo, Etéocles não cede o trono
e, em exílio, expulsa Polinices deste solo.
Então para Argos ele se foi, teceu uma aliança com Adrasto
e reuniu muitos guerreiros argivos sob seu comando.
Após essas coisas e chegando diante das muralhas de sete portas,
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Polinices reclama o cetro e uma parte da terra.