Os dois primeiros parágrafos do Livro 2, que trata da reprodução das plantas, foram
selecionados para dar ao leitor moderno uma ideia da meticulosidade e da capacidade de
observação do filósofo-botânico Teofrasto, o homem da "divina eloquência".
Note-se a menção à geração espontânea, mecanismo evolutivo aceito
naquela época não nos esqueçamos que Teofrasto tinha à sua disposição apenas
os olhos e a mente. A tradução do texto grego para o francês é de Suzanne Amigues
(1988); a tradução portuguesa é de minha
autoria.
A reprodução das plantas
1. As árvores e as plantas em geral se reproduzem seja por geração
espontânea, seja a partir de uma semente, de uma raiz, de u'a muda, de
um galho, de um ramo, do próprio tronco ou, ainda, da madeira quebrada em
pedaços pequenos: certas espécies conseguem se reproduzir mesmo assim. A geração
espontânea pode passar por um desses procedimentos, o mais primário; a reprodução por
semente e por raiz, pelo mais natural, pois ela é, também, em certo sentido,
espontânea, o que permite às plantas selvagens disporem desses meios; os outros são
assunto de técnica ou mesmo de escolha.
2. Todos os vegetais adquirem vida de uma dessas maneiras; a maior parte, de
diversas. A oliveira se multiplica de todos os modos, salvo pela muda de ramo; fixa
na terra, ela não tem o poder vegetativo da figueira com seus jovens rebentos, nem o
dos enxertos da romãzeira. No entanto viram-na, de acordo com certos
relatos, uma vez plantada como estaca, partilhar a vida da hera à qual estava colada
e se tornar uma árvore, mas é um caso excepcional, uma vez que os outros
procedimentos são em maior parte inerentes à sua natureza. A figueira se multiplica
de todas as maneiras, mas não a partir de lascas de toco e de madeira. A macieira e a
pereira se reproduzem até por mudas de ramo, excepcionalmente. Parece, no entanto,
que por assim dizer todas as espécies toleram comumente esse procedimento, desde que
os galhos sejam lisos, jovens e vigorosos.