Platão / República 614b-615a
Tradução da parte inicial do Mito de Er, um dos mais conhecidos mitos de Platão, contado por ele no diálogo
A tradução, já publicada, é de Rodolfo Pais Nunes Lopes (2018)*. As notas, também de sua autoria, foram reduzidas ao essencial. Os parágrafos foram divididos para facilitar a leitura.
614b. “Olha que o que te vou contar não é uma estória de
Alcínoo, mas sim de um homem
Disse que a sua alma, quando saiu dele, foi encaminhada [c] com muitas outras e chegaram a um certo local extraordinário, onde havia, uma ao lado da outra, duas aberturas a partir da terra e, no sentido oposto, outras duas lá no alto a partir do céu. Entre as aberturas estavam sentados uns juízes, que, depois de terem proferido a sentença, mandavam seguir os justos, pela direita, o caminho para cima, pelo céu, e os injustos, pela esquerda, o caminho para baixo.
Aos justos anexaram na frente as provas da sentença, e os injustos tinham nas costas as provas de tudo o que praticaram. [d] Quando Er compareceu, disseram que ele devia servir de mensageiro para os homens acerca das coisas do além, e ordenaram-lhe que ouvisse e contemplasse tudo o que há nesse lugar.
Viu de que modo as almas, depois de lhes ter sido dada a sentença, saíam por cada uma das duas aberturas do céu e da terra. Quanto às outras duas, por uma subiam da terra as almas cheias de sede e de poeira, e pela outra desciam do céu as almas purificadas. E as que iam chegando pareciam regressar [e] de uma longa viagem: saíam contentes para os prados e acampavam como num festival.
As que se conheciam
615a. viram durante a viagem por baixo da terra (viagem que dura mil anos); outras, as que vinham do céu, falavam sobre delícias e visões de uma beleza inconcebível.
(*) Licença da tradução e das notas: CC BY 4.0.