Xenofonte / A educação de Ciro

Κύρου παιδεία Institutio Cyri / Cyropaedia Xen. Cyr. c. -370/-360
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μὴ οὔτε τῶν ἀδυνάτων οὔτε τῶν χαλεπῶν ἔργων ᾖ τὸ ἀνθρώπων ἄρχειν, ἤν τις ἐπισταμένως τοῦτο πράττῃ.

governar os homens não é tarefa nem impossível, nem difícil, se alguém se dedicar a isso com habilidade.

A obra descreve passagens da vida de Ciro, o Grande (c. -600/-530), o imperador da Pérsia que fundou a dinastia aquemênida.

miniatura Ciro e o rei da Armênia

A Ciropédia (ou Educação de Ciro, gr. Κύρου παιδεία) foi escrita por Xenofonte entre -370 e -360, aproximadamente.

A obra não deve ser considerada biografia “não oficial” do rei, talvez nem mesmo uma biografia. O relato de Xenofonte, altamente ficcional e idealizado, está mais próximo do romance histórico, possivelmente o primeiro da literatura ocidental.

A natureza específica da obra, que aborda diversos temas, tem sido objeto de controvérsia há séculos. Segundo Gera (1993, p. 1), a Ciropédia

pode ser descrita como uma biografia de Ciro, o Grande, uma história dos primórdios do império persa, um romance, um encômio, manual militar, guia para a administração política de um império, obra didática sobre ética, moral, educação, etc. Ela é, de fato, tudo isso.

O texto tem linguagem elegante, relativamente simples, e é de leitura agradável, embora tedioso em algumas partes. Esse era o texto mais utilizado pelos iniciantes no estudo do grego antigo até há algumas décadas.

Resumo

O texto está dividido em 8 livros, distribuídos em aproximadamente 2 volumes da tradução de Miller (1914), que reproduz em 425 páginas o texto grego editado por Hug (1905) com algumas modificações.

Eis, por enquanto, a descrição de Miller para cada livro:

  1. A juventude de Ciro.
  2. A reorganização do exército.
  3. A conquista da Armênia e da Cítia.
  4. A captura do primeiro e do segundo campo dos assírios.
  5. Gobrias e Gadatas.
  6. Na véspera da grande batalha.
  7. A grande batalha.
  8. A organização do império.

 

Manuscritos, edições, traduções

Numerosos manuscritos de Xenofonte contêm a Ciropédia; o mais antigo é o Vaticanus gr. 1335 (Biblioteca do Vaticano, sæc. X). Eis alguns outros: Parisinus 1640 (Paris, Biblioteca Nacional, 1320); Marcianus gr. 511 (Veneza, Biblioteca de São Marcos, 1300-1350); Laurentianus 55.19 e também o 55.21 (Florença, Biblioteca Laurenciana, 1426 e sæc. XIV, respectivamente); e Ambrosianus E11 inf. (Milão, Biblioteca Ambrosiana, sæc. XIV).

Há vários papiros com trechos da obra; dois são do século II (P. Hawara 15, P. Rainer M. VI), mas a maioria é do século III: P. Oxy. 697-8, 1018, 2101; P. Varsoviensis I e P. Rylands iii.549, entre outros.

A editio princeps do texto grego é a Giuntina (Florença, 1516 e 21527). Principais edições modernas: Hug (Leipzig, 1883 e reed.1905); Marchant (Oxford, 1910); Gemoll (Leipzig, 1912 e corr.1967); Byzos (Paris, 1971-8).

Passagens selecionadas

Traduções do grego para o português: de Diogo de Teive (sæc. XVI) e de Joaquim de Foyos ou Fóios (1814), ambas inéditas (Prieto 2001, p. 440); de João Félix Pereira (1854 e rev.2008); de Jaime Bruna (1965); e de Lúcia Sano (2021).

Recepção

A Ciropédia desfrutou de grande consideração na Antiguidade (e.g. Cipião, o Africano e Cícero, entre outros) e, posteriormente, do século XV em diante, na Itália e na França. Na França, seus mais notórios admiradores eram Montaigne (Ensaios, sæc. XVI) e Fénelon (Telêmaco, 1699).

A influência mais marcante se vê, porém, em três tratados políticos italianos intitulados, talvez não coincidentemente, O Príncipe: o de Giovanni Pontano (1468), o de Bartolomeo Sacchi (1471) e o de Niccolò Machiavelli (1532), este certamente o mais conhecido.