Esta passagem do 3º episódio da tragédia contém a sombria previsão do adivinho Tirésias: para vencer o exército argivo que sitia Tebas, Creonte terá que sacrificar seu próprio filho, o jovem Meneceu. A tradução é de JAA Torrano (2016), a nota é de minha autoria.
CREONTE
Espera aí, velho!
TIRÉSIAS
Não me prendas!
Cr.Fica! Foges?
Ti. Sorte foge de ti, não eu.
Cr.Diz a salvação aos cidadãos e à cidade!
Ti.Tu o queres sim, e talvez não queiras.
900
Cr.Como não quero salvar a terra pátria?
TiQueres mesmo ouvir e tens pressa?
Cr.Em que mais devo pôr meu empenho?
Ti.[Ouvirias doravante meus vaticínios.][1]
Primeiro quero saber claramente isto,
905
onde está Meneceu, que me trouxe?
Cr.Ele não está longe, mas perto de ti.
Ti.Que se afaste longe de meu vaticínio!
Cr.Por ser meu filho, calará o que deve.
Ti.Queres que te diga com ele presente?
910
Cr.Ele teria prazer em ouvir de salvação.
Ti.Ouve o caminho de meus vaticínios,
[como salvaríeis a urbe dos cadmeus].
Deves imolar pela pátria o teu filho
Meneceu, já que tu chamas a sorte.
915
Cr.Que dizes? Que fala tu falas, velho?
Ti.O que falei, isso é coação que faças.
Cr.Ô! Falaste em breve fala muitos males!
Ti.A ti, mas à pátria, virtude e salvação!
Cr.Não ouviram, não ouvi! Adeus, urbe!
920
Ti.Este varão não é ele; arreda ao invés.
Cr.Adeus, vai! Não quero teus vaticínios.
Ti.Abole-se a verdade, se tens má sorte?
Cr.Ô! Por teus joelhos e encanecida barba!
Ti.Por que suplicas? Diz males inevitáveis.