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Dioscorides / Materiais da medicina

Περὶ ὕλης ἰατρικῆς De materia medica Dsc.AD 60
Eripit interdum, modo dat medicina salutem,
quaeque iuvet, monstrat, quaeque sit herba nocens.

A medicina às vezes concede saúde, às vezes destrói,
mostrando qual planta é benéfica, qual é maléfica.

Herbário medicinal em grego antigo que descreve cerca de 1000 substâncias vegetais, animais e minerais, dentre as quais se destacam mais ou menos 600 plantas.

miniaturaVioleta roxa

Os verbetes do De materia medica (gr. Περὶ ὕλης ἰατρικῆς) trazem o nome, a descrição da planta (ou do mineral ou do animal), suas propriedades e usos terapêuticos, além de algumas recomendações quanto à coleta, preparo e conservação do material.

As informações fornecidas pelo autor, Pedanius Dioscorides, são de natureza observacional e empírica — e de cunho eminentemente prático. Não conhecemos com precisão as fontes de Dioscorides, mas elas são provavelmente múltiplas e o autor acrescentou, sem dúvida, sua experiência pessoal (Dioscorides 1 arg.). A classificação das substâncias, empírica e prática, está muito longe do que hoje denominamos sistemática ou taxinomia.

Resumo

Baseado em Sprengel (1829-1830), edição com texto grego e tradução latina em 2 volumes (com algumas obras atribuídas a Dioscorides), totalizando cerca de 800 páginas.

O texto foi dividido pelos editores antigos em 5 livros.

A julgar pelo prólogo do Livro I, Dioscorides tinha a intenção de agrupar as substâncias de acordo com suas propriedas e com o efeito terapêutico, mas a sequência de verbetes dos textos conhecidos é bastante irregular e até hoje não foi possível determinar o exato critério do arranjo final[2] (Prioreschi, 1998, p. 249). Talvez por isso, em algum momento, os copistas medievais decidiram reorganizar os livros em ordem alfabética (Cronier, 2013).

O conteúdo de cada livro é mais ou menos o seguinte:

Livro I Proêmio: dedicatória ao amigo e médico Ário de Tarso (sæc. I), menções aos tratados similares antigos e contemporâneos. Aromáticos, óleos, unguentos, produtos de árvores e arbustos (líquidos, resinas e frutos); Livro II Animais, partes de animais, produtos animais, cereais e ervas de vários tipos; Livro III Raízes, sucos, ervas e sementes; Livro IV Mais raízes e ervas, em especial as venenosas e narcóticas; Livro V Vinho e minerais com propriedades terapêuticas.

No verbete sobre as 'rosas' (1.99 = gr. ῥόδα), por exemplo, Dioscorides informa que elas são refrescantes e adstringentes, e recomenda o suco das pétalas para os olhos e o emplasto, para inflamações do hipocôndrio, excesso de fluidos no estômago e erisipelas. O pó seco das pétalas, com vinho, serviria para dores de cabeça, dores de ouvido e hemorróidas; o fruto da roseira seria útil para fluxos intestinais (diarreia?) e para expectoração com sangue. Trata-se, provavelmente, da Rosa gallica (rosa vermelha).

Manuscritos e edições

Coisa rara em relação às obras escritas na Antiguidade, De materia medica nunca esteve perdido, pois foi copiado e lido em grego, latim e árabe ao longo da Idade Média sem interrupções perceptíveis.

O mais antigo fragmento que chegou até nós (Dsc. 2.76.2;7-18) é o P. Mich. inv. 3 (AD 192) e o mais antigo manuscrito grego completo, em unciais e ricamente ilustrado, é o Codex Vindobonensis (AD 512), conservado na Biblioteca Estatal de Viena. Ele é também conhecido por Codex Juliana Anicia, homenagem à filha do Imperador Bizantino Anicius Olybrius (m. 472), sua primeira dona. Ele foi descoberto em Istambul pelo diplomata flamengo Ogier Ghiselin de Busbecq (1522/1592) em 1562.

Acredita-se que a obra de Dioscorides a princípio não era ilustrada e que as imagens foram acrescentadas ao texto pelo artista bizantino que ilustrou o Codex Vindobonensis. Aparentemente o ilustrador se baseou na obra Ῥιζοτομικόν, 'Da coleta de raízes', de Crateuas de Pérgamo (sæc. -I), médico de Mitrídates VI (-134/-63), rei do Ponto.[3] Outros manuscritos medievais de excelente qualidade estão na Biblioteca Pierpont Morgan de New York, na Biblioteca Nacional de Paris, na Biblioteca Nacional de Nápoles, na Biblioteca de São Marcos em Veneza e na Biblioteca Geral Histórica da Universidade de Salamanca, entre outras. Há, também, muitas cópias árabes conservadas em diversos museus.

A primeira impressão é uma obscura tradução latina datada de 1478; a editio princeps do texto grego é a de Aldus Manutius (Veneza, 1499). Nos séculos seguintes, diversas traduções latinas, espanholas, francesas, alemãs e italianas foram publicadas, além de numerosas obras derivadas ou apenas inspiradas no compêndio original de Dioscorides. Uma tradução inglesa do século XVII, no entanto, foi publicada somente em 1934.

Depois da Aldina, poucas edições gregas e muitas traduções latinas com anotações e adendos não originais foram também publicadas. Dentre as gregas, as melhores são as de Saracenus (grego e latim, 1598) e de Sprenguel (grego e latim, 1829-1830). A mais recente, a mais moderna e a mais utilizada atualmente é a de Wellmann (Berlim, 1906-1914). Não existe tradução para o português.