Edição padrão de textos gregos
A edição padrão de determinado texto grego, dentre as edições posteriores à editio princeps é, via de regra, a mais completa e a de melhor qualidade; às vezes, há mais de uma.
Nas últimas décadas, tais edições foram quase sempre publicadas em Oxford, Inglaterra (Clarendon Press, parte da Oxford University Press), em Leipzig, Alemanha (B.G. Teubner Verlagsgesellschaft) e em Paris, França (Société
Os textos da Clarendon formam a coleção Scriptorum Classicorum Bibliotheca Oxoniensis (ou Oxford Classical Texts); os da Teubner, a Bibliotheca Scriptorum Graecorum et Romanorum Teubneriana e os da Belles Lettres, a Collection Budé. A Clarendon publica desde 1478, a Teubner desde 1849 e a Belles Lettres desde 1920.
As edições padrão têm uma introdução, o texto grego propriamente dito, via de regra sem tradução ou comentários, e um aparato crítico.
Introduções
Na introdução, o editor tradicionalmente apresenta o texto e seu autor, menciona as dificuldades encontradas, enumera e comenta os manuscritos usados para o estabelecimento do texto e assim por diante.
A Clarendon e a Teubner têm introduções escritas em latim, conforme tradição que remonta aos clássicos publicados nos primeiros séculos da Renascença. Os textos da Collection Budé trazem uma introdução em francês e algumas publicações da Clarendon Press, de 1990 em diante, têm introdução em inglês.
Texto grego
O texto grego é o resultado da comparação crítica entre os melhores manuscritos medievais e papiros conhecidos. Os poemas são naturalmente divididos em versos, e os textos em prosa, em parágrafos.
O principal problema enfrentado pelo editor é a enorme variação do texto grego de manuscrito para manuscrito, consequência da desatenção ou da falta de preparo dos antigos copistas. Cabe ao editor decidir qual é a melhor leitura de cada verso ou parágrafo, corrigir erros flagrantes e ainda tecer conjeturas sobre a natureza de passagens ilegíveis, rasuradas ou destruídas. Os manuscritos razoavelmente conservados dão, naturalmente, muito menos trabalho do que os fragmentos de papiro.
Em sua tarefa, o editor recorre aos seus conhecimentos de grego antigo, compara o texto com outras obras do mesmo autor, quando disponíveis, e analisa cuidadosamente o trabalho dos editores que o precederam. Há coisas que atrapalham, por exemplo as “interpolações”, passagens não escritas pelo autor original e inseridas por um ou mais dos numerosos copistas que tiveram o manuscrito em suas mãos. Essas interpolações precisam ser identificadas pelo editor e, no mínimo, assinaladas; quando não há dúvida, são retiradas do texto. A intenção é recuperar, da melhor maneira possível, o texto original, i.e., aquilo que o autor escreveu muitos séculos atrás.
A maior parte das edições recentes da Collection Budé tem, além do texto grego, uma tradução francesa — são, portanto, edições bilíngues.
Aparato crítico
O aparato crítico (lat. apparatus criticus) é a denominação tradicional de uma série de observações colocadas pelos editores em cada página, sob o texto grego propriamente dito. Essas observações se referem, via de regra, a leituras divergentes entre os manuscritos, conjeturas e outras notas relevantes para o estabelecimento do texto. Tradicionalmente, a língua utilizada é o latim. Eis um pequeno exemplo, referente aos versos 92-3 da Ifigênia em Áulis, de Eurípides, na edição de Günther (Leipzig, Teubner, 1988, p. 6):
A primeira anotação, referente ao v. 92, aponta uma lição divergente entre dois manuscritos. O editor adotou a leitura do manuscrito P2,
Para poupar espaço, as fontes são em geral citadas por uma abreviatura (lat. siglum). No exemplo acima, P2 se refere a uma correção feita por um erudito antigo no manuscrito Palatinus gr. 287 e L corresponde ao manuscrito Laurentianus pl. 32,2, preparado pelo copista bizantino Nicolaus Triclines.