Manuscrito de Platão

c. 902/932
Folio 224 recto do Codex Clarkianus 39 (= MS E.D. Clarke 39), com a página inicial do Fedro de Platão.
O Clarkianus, intitulado 'Tetralogias 1-6', é um manuscrito de pergaminho com 24 diálogos de Platão e alguns escólios inscritos nas margens. É nossa mais antiga fonte de quase metade dos textos completos de Platão e deve ter sido a primeira parte de uma edição em dois volumes. Foi encomendado por Aretas de Patras (n. c. 860, m. post 932), bispo de Cesareia entre 902 e 932, aproximadamente, e custou 21 moedas de ouro. Ver panorama da página na Ilum. 0899a.

Os escribas medievais, ao copiarem textos gregos, usavam uma espécie de escrita cursiva, apertada, para economizar espaço. Nas modernas edições de textos gregos os editores separam os parágrafos convenientemente, para facilitar o estudo.

Note-se que, para tanto, é necessário ter, além de bons conhecimentos de grego antigo e da tradição manuscrita, um certo treinamento em paleografia, nome que se dá à ciência da decifração de textos antigos. No caso dos manuscritos gregos, o fato de o texto não conter indicação de personagens é uma dificuldade adicional, pois é preciso analisar bem o contexto de cada frase. Os diálogos platônicos não são os mais complicados, pois em geral Platão utiliza apenas três ou quatro personagens, e os vocativos ajudam muito; já as tragédias e comédias, que têm o Coro e mais uma série de personagens, são um problema beeem mais complexo. Nesses casos, os diferentes metros da poesia ajudam um pouco.

Imaginem, então, o caso dos papiros e das inscrições, anteriores à prática bizantina de transcrever o texto em minúsculas, quando não havia acentos e sinais de pontuação para separar as frases...

Eis um pequeno exemplo da diferença entre a escrita cursiva e a escrita “tipográfica”, com letras bem separadas, retirado das duas primeiras linhas do texto (selecionei parte do canto superior esquerdo da foto acima). Compare a linha grafada em vermelho com o texto correspondente:

Ὦ φίλε Φαῖδρε, ποῖ δὴ καὶ πόθεν;

Essa é a primeira frase do diálogo, dita por Sócrates (Pl. Phdr. 127a): 'Ó amigo Fedro, para onde vais e de onde vens?'

registro nº0899
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