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Éter e Hemera

Personificações da luminosidade que emergiu do Universo primitivo, antes dominado somente pelas trevas.

Origem e natureza

Éter (gr. Αἰθήρ) e Hemera (gr. Ἡμέρα) foram as primeiras divindades nascidas de um ato amoroso. Dois aspectos da escuridão primitiva, Érebo e Nix, uniram-se e geraram os dois irmãos.

Do gênero masculino, Éter é a luminosidade pura e brilhante da região superior da atmosfera, próxima à abóbada celeste; os poetas arcaicos e clássicos às vezes mencionam “éter” com o sentido de “céu”, lugar onde ficam Zeus e outros deuses.

Hemera personifica a claridade do dia, ou melhor, a luz que se vê logo acima da terra e alterna com a escuridão da noite. Em grego, o substantivo é do gênero feminino.

miniaturaÉter? combate um gigante

Hemera habita o Tártaro juntamente com Nix e troca diariamente de lugar com a mãe: quando uma entra, a outra sai. Um poeta lírico anônimo (adesp. F 1010) afirmou que Hemera dirigia uma carruagem, talvez confundindo-a com Hélio. Pausânias e outros a identificam com Eos, a aurora, divindade que prenuncia a luz do dia

Não há mitos associados a Éter e Hemera.

Não há evidências decisivas de que Éter e Hemera tenham sido representados ou cultuados na Antiguidade. Há, no entanto, duvidosa representação de Éter no Grande Altar de Pérgamo [Ilum. 1423] e antiga pintura grega que representava a queda de Faetonte trazia, aparentemente, as figuras de Nix e Hemera.

Hesíodo, Teogonia 124-5 e 744-57; Álcman F 5; Platão, Timeu 58d; Aristóteles, Meteorologia 339b e Do céu 270b, 308b e passim; Cícero, Da natureza dos deuses 1.14 e 3.17; Pausânias 1.3.1, 3.18.12 e 5.22.2; Plotino, Enéades 2, passim; Filóstrato, o Antigo, Imagens 1. 11.

Variantes

Baquílides (7.1-2) afirmou que Hemera era filha de Crono e Nix.

A teogonia órfica em Aristófanes (Aves 693-703) não menciona Éter, mas fala de ἀήρ, o ‘ar’. Em Nuvens 569-70, Éter é o pai do coro de Nuvens.

Segundo [Higino] (Histórias prefácio 1.1-3), Érebo, Nix e Éter vieram de Caos e Caligo, ‘Escuridão’; Éter e Hemera (“Dia”) se uniram e geraram a terra, o céu e o mar e de Éter e Gaia vieram, entre outras, as divindades sombrias que Hesíodo atribuiu à descendência de Nix.

Nos poemas órficos (e.g. Teogonias F 54), Crono, o tempo[1], era o pai de Éter, Caos e Érebo.

Recepção

O hino órfico nº 5 (sæc. I-III) é dedicado a Éter.

miniaturaNix, Éter e Hemera

Platão, Aristóteles, Plotino e filósofos posteriores trataram “éter” como um dos elementos da natureza. Para Aristóteles, ele era um “quinto elemento” (denominado posteriormente “quintessência”) que preenchia o espaço entre a terra e as estrelas. Na Idade Média, “éter” era a matéria intangível que preenchia o Universo acima da esfera terrestre e, até o final do século XIX, acreditava-se que esse éter permitia o movimento de ondas eletromagnéticas e luz entre planetas e estrelas.

Inspirado nos conceitos medievais, o químico Wilhelm G. Froben deu o nome de “éteres” a uma classe de compostos químicos orgânicos, utilizados até pouco tempo atrás para anestesia durante as cirurgias.

Alguns significados da palavra portuguesa quinta-essência (ou quintessência) evocam, em certa medida, conceitos míticos e aristotélicos associados a Éter.

Em 1884, o pintor William-Adolphe Bouguereau intitulou “Dia” a pintura de radiante figura feminina.