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Salmoneu e Tiró

ΣαλμωνεύςSalmoneusΤυρώTyro

Salmoneu era o filho mais velho de Éolo, irmão de Sísifo, Átamas e Alcione; pai de Tiró.

miniaturaA loucura de Salmoneu

Oriundo da Tessália, Salmoneu emigrou para a Élida, região do noroeste do Peloponeso, e estabeleceu um reino conhecido por Salmonia (ou Salmone) perto de Pisa, fundado por ele com o auxílio de alguns companheiros tessalianos. Ele e sua esposa, Alcídice, tiveram apenas uma filha, Tiró.

Salmoneu é conhecido basicamente por um episódio que psiquiatras contemporâneos classificariam, pura e simplesmente, de insanidade.

A híbris[1] de Salmoneu

Salmoneu era arrogante e altivo, mas era rei e tudo ia muito bem até que se convenceu de que era Zeus, nada mais, nada menos...

Um dia exigiu que os súditos lhe oferecessem os sacrífícios devidos a Zeus e lhe prestassem as homenagens correspondentes (Verg. Aen. 6.585-94). E prendeu χάλκεοί τε λέβητες (‘caldeirões e objetos de bronze’) à sua carruagem e atirava tochas (Ehoeae F 26-7, Apollod. 1.9.7), tentanto imitar o trovão e o raio, atributos pessoais do deus.

Zeus obviamente não gostou nem um pouco da empáfia de Salmoneu e da ridícula apropriação de suas prerrogativas divinas. Fulminou-o com um raio de verdade, lançou-o nas profundezas do Tártaro e arrasou a cidade e seus habitantes, mas poupou Tiró, que tentara dissuadir o pai de suas loucuras.

Talvez a punição divina tenha se estendido aos súditos de Salmoneu porque eles atendiam suas insanas exigências.

A(des)venturas de Tiró

Depois da destruição de Salmoneu e de seu reino, a jovem e bela Tiró foi levada por Zeus ao seu tio Creteu, em Iolco, que acabou de criá-la (Ehoeae F 27).

Quando chegou à idade apropriada, Posídon se apaixonou por ela e a engravidou às margens do rio Enipeu. Segundo a Odisseia (11.238-53), ela havia por sua vez se enamorado de Enipeu e ia sempre até suas águas; Posídon assumiu, então, o aspecto do rio para abordá-la.

miniaturaTiró e os gêmeos

Tiró teve dois filhos gêmeos com Posídon, Pélias e Neleu, futuros reis de Iolco e de Pilos, respectivamente.

De acordo com tradições tardias que possivelmente refletem temas recorrentes nos dramas áticos do Período Clássico, ela teve que abandonar as crianças e era maltratada por Sidero, esposa de Creteu. Os meninos foram, no entanto, salvos por pastores ou mercadores que por ali passaram, cresceram, voltaram, salvaram a mãe dos maus tratos da madrasta e mataram Sidero.

Mais tarde seu tio Creteu se casou com ela e lhe deu mais três filhos (Odisseia 11.258-9): Éson, futuro pai de Jasão, Amitáon, futuro pai de Melampo, e Feres, futuro pai de Admeto.

Há um resumo da história de Tiró na Odisseia (11.235-59), e da história de Salmoneu e Tiró no Catálogo das Mulheres (F 26-30). Detalhes de seu mito e da localização do reino de Salmoneu só são encontrados, no entanto, em autores gregos e romanos tardios, notadamente Virgílio (Aen. 6.55-94), Pseudo-Apolodoro (1.9.7-8), Estrabon (8.3.32), Diodoro Sículo (4.68.1-3 e 6.6.4), Pseudo-Higino (60, 61 e 239) e Galeno (10.18-19).

Variantes

A Odisseia (11.236) estranhamente qualifica Salmoneu de ἀμύμονος, 'irrepreensível'. Valério Flaco, na Argonautica (1.569), diz que Salmoneu sobreviveu à sua loucura e teve oportunidade de ajudar seu sobrinho Jasão.

No epigrama 3.9 da Antologia Palatina e em Diodoro Sículo (4.68.1, 6.7.2-3), é o próprio Salmoneu, casado em segundas núpcias com Sidero, que maltrata Tiró. Sidero atormenta a jovem porque é sua madrasta, ou porque descobriu que ela foi seduzida.

O Pseudo-Higino (60 e 239) afirma que Sísifo, irmão de Salmoneu, teve filhos com Tiró, mas que ela os matou porque o Oráculo de Apolo vaticinou que eles futuramente matariam o pai dela, Salmoneu.

Iconografia

A única representação antiga de Salmoneu que chegou até nós, e ainda controvertida, é a cena do vaso da [Ilum. 1193], de meados do século -V. Há referências a uma pintura de Salmoneu feita por Polignoto (AP 3.9), que viveu também nessa época.

Tiró aparece em alguns espelhos etruscos e em pelo menos um baixo relevo da Itália meridional, todos do final do Período Clássico e início do Período Helenístico. Datam também dessa época algumas estatuetas de terracota que representam Tiró e os gêmeos, como a da [Ilum. 1194].

Influências

Salmoneu e Tiró foram, na Antiguidade, personagens de tragédias (Tiro I e Tiro II, de Sófocles), de dramas satíricos (Salmoneu, de Sófocles) e de comédias (Epitrepontes, de Menandro); todas chegaram até nós em estado altamente fragmentário. Sófocles menciona Salmoneu na tragédia perdida Ájax, o Lócrio (F 10c) e Eurípides, na tragédia perdida Éolo (F 14).

Os poetas romanos Ovídio (Her. 19.139) e Propércio (1.13 e 3.19) lembraram Salmoneu e Tiró em seus poemas e, em nossos dias, o poeta Ezra Pound falou sobre Tiró no Canto II de seus The Cantos (1924/1925).