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Vasos arcaicos de figuras negras

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No início do século -VII, os artesãos de Corinto desenvolveram uma nova técnica, conhecida por “figuras negras”, que iria dominar a cerâmica grega até meados do século -VI.

Graças ao sucesso dessa técnica, Corinto liderou o mundo grego na produção e exportação de vasos decorados em boa parte dos séculos -VII e -VI.

Os dois mais importantes centros produtores de vasos de figuras negras foram, sucessivamente, Corinto e Atenas. As outras póleis, com algumas exceções, em geral importavam os vasos coríntios e áticos e a cerâmica autóctone era muitas vezes calcada nesses modelos.

A técnica de figuras negras

Inicialmente, o pintor desenhava uma silhueta de cor escura e posteriormente, com objeto de ponta fina e dura, fazia as incisões necessárias para os detalhes anatômicos: olhos, orelhas, bicos, mãos / patas, genitais, mamas, músculos, asas etc. Flores e outros elementos de preenchimento também recebiam detalhes incisos.

miniaturaA técnica coríntia de
figuras negras

Algumas partes das figuras (e.g. cabelos, roupas, adereços) eram pintados de vermelho escuro ou de branco; a pele feminina era usualmente pintada de branco. De modo geral, detalhes eram criados mais por incisões do que pela adição de cor.

O produto final tinha habitualmente quatro cores: preto, branco e vermelho escuro destacados contra o fundo, que apresentava a cor clara da cerâmica. A argila coríntia, de cor amarelada, produzia característico contraste entre as figuras e o fundo.

Embora tenha sido criada no contexto da influência orientalizante das primeiras décadas do Período Arcaico, os estilos de figuras negras progressivamente se afastaram da temática oriental e bárbara, favorecendo temas mais condizentes com a cultura grega.

Estilo coríntio

Em Corinto, berço da técnica, os primeiros vasos com “figuras negras” surgiram no início do protocoríntio, em meio às influências orientalizantes do primeiro século do Período Arcaico.

miniaturaFrisos de animais e
cena do dia a dia

No período seguinte, denominado coríntio (-625/-550), a técnica de figuras negras se tornou predominante e três etapas são distinguíveis pelos especialistas: coríntio antigo (-625/-600), médio (-600/-675) e recente (-575/-550). Alguns estudiosos reconhecem, ademais, um período de transição logo após o protocoríntio (-640/-625).

Uma das características gerais do estilo coríntio é a pequena quantidade de temas e a enorme produção de vasos de cada tema, obviamente com vistas à exportação. A maioria dos vasos era de pequeno tamanho, e.g. aríbalos, alabastros, píxides, cótilas, com figuras de grande tamanho. Há também pequenas placas votivas e, dos vasos maiores, apenas as crateras se destacam.

No coríntio antigo, a decoração ainda utilizava um repertório estereotipado de figuras humanas, animais mitológicos e não mitológicos, com rosetas, pontos, flores e outros elementos estilizados no resto da superfície. No coríntio médio, o desenho das figuras ficou mais apurado e as cenas narrativas se tornaram cada vez mais frequentes, retratanto episódios míticos e cenas do dia a dia. De modo geral, as figuras do estilo coríntio eram maiores do que as do estilo protocoríntio e as cores assumiam grande importância na decoração, particularmente durante o coríntio recente.

miniaturaNarrativa mítica: Héracles, Folo e os centauros

Simpósios com participantes reclinados são representados pela primeira vez na cerâmica grega e cenas com alegres dançarinos (“comastas”) se tornam comuns. De modo geral, a temática e a representação das cenas míticas diferem um pouco da cerâmica ática;

Os vasos coríntios foram progressivamente suplantados pela inspirada cerâmica ática de figuras negras, mais atraente e mais barata. Embora os artesãos coríntios tentassem copiar os vasos atenienses e sua cor alaranjada, em meados do século -VI a produção de Corinto passou a atender apenas às necessidades locais.

Artistas coríntios mais importantes: Pintor de Palermo 489 e Pintor de Columbus (fase transicional); Pintor do Duelo (coríntio antigo); Pintor de Foloë, Pintor de Dodwell, Grupo da Quimera, Grupo do Gorgoneion, Timonidas e Pintor da Cavalgada (coríntio médio); Pintor de Tideu, Pintor de Hipólito (coríntio recente).

Lacônia

miniaturaCálice laconiano do Pintor de Arcesilau

A cerâmica de estilo laconiano, produzida em Esparta, foi produzida e exportada a todas as áreas de influência espartana, notadamente Tarento, norte da África, Samos e Etrúria, ao longo do século -VI.

Predominam cenas do dia a dia e narrativas míticas, com figuras um tanto rígidas e pouco uso de cores.

Os artistas mais destacados são o Pintor de Náucratis e o Pintor dos Boréades (fl. -575/-500), o Pintor de Arcesilau (fl. -560) e o Pintor da Caça (fl. -550/-525).

Vasos calcidianos

Fora de Corinto, de Atenas e da Lacônia, a mais destacada produção de vasos de figuras negras do século -VI ocorreu no Ocidente, notadamente em Régio, provável sede da “escola calcidiana”[1].

Os vasos, de alta qualidade artística e figuras relativamente mais realistas do que nos estilos anteriores, foram encontrados em vários sítios do sul da Itália. Predominam as cenas narrativas, criadas com originalidade e de acordo com versões míticas um pouco diferentes das tradicionais.

miniaturaDiomedes mata Reso

Principais expoentes: o Pintor da Inscrição e o Pintor de Fineu.

Beócia e outras regiões

Muitas póleis gregas importavam a maior parte dos vasos decorados, mas em algumas delas a produção local era relativamente grande. Na Beócia, a decoração local se inspirou em vasos coríntios até meados do século -VI e, depois, nos vasos atenienses. É possível que artesãos coríntios e atenienses tenham migrado para a região, embora a qualidade desses vasos seja inferior aos seus modelos. Nem sempre se consegue diferenciar importações beócias e vasos de produção local.

Outras póleis mantiveram a fabricação de cerâmica orientalizante, que se estendeu por quase todo o século -VI, mas algumas delas confeccionaram quantidades significativas de vasos de figuras negras. As mais importantes foram Erétria, Andros (Cíclades), Quios, Samos e Clazômenas. Note-se que muitos vasos de Quios imitavam o estilo laconiano.

Etrúria

As exportações de vasos gregos geométricos e orientalizantes para a Etrúria[2], diretamente ou por meio das póleis da Magna Graecia, eram muito bem recebidas pelos etruscos e tiveram grande influência em sua cultura.

miniaturaSimpósio em preparação

Por volta de -630 começaram as imitações locais do estilo figurativo de Corinto, dando origem a um estilo que podemos denominar “etrusco-coríntio”, espécie de adaptação dos temas gregos aos temas e ao gosto etrusco. No século -VI foram também criados vasos com influência de áreas específicas, como a Jônia (e.g. Grupo de Northampton, vasos campanianos) e o sul da Itália (e.g. vasos de estilo pseudo-calcidiano).

Havia também uma produção local com decoração caracteristicamente grega, às vezes indistinguíveis dos vasos da Grécia Continental e Oriental, provavelmente obra de imigrantes gregos ou de homens treinados nos ateliês gregos. Os exemplos mais importantes são as hídrias caeretanas (de Caere), estas últimas com cenas narrativas de iconografia particularmente original, e os vasos do Grupo Pôntico (de Vulci e Cerveteri)[3].