Aristóteles / Poética 1455a.35-1455b.23

Arist. Po. 1455a.35-1455b.23c. -334

Aristóteles, ao aconselhar os poetas quanto à composição do argumento e dos episódios da tragédia e da epopeia, apresenta dois exemplos: a tragédia Ifigênia em Táuris, de Eurípides, e o poema épico Odisseia, de Homero.

O argumento da Ifigênia em Táuris

1455a [35] (...) Aos argumentos, tanto os já compostos como os que o próprio poeta está compondo, é preciso expor de forma geral 1455b [1] e só então compor e desenvolver os episódios. Digo com o "mostrá-los de forma geral" assim, tal qual na Ifigênia[1]: uma certa jovem, tendo sido sacrificada, desaparece sem ser vista pelos sacrificadores e é instalada em outra [5] terra, onde era costume sacrificar os estrangeiros à deusa[2], e ela obteve o sacerdócio; tempos depois, ocorreu de o irmão da sacerdotiza vir para roubar a deusa[3] (por que razão, está fora do plano geral); por que ir para lá e para quê, está fora do enrendo; ao chegar, é preso e, prestes a ser sacrificado, faz-se reconhecer, da maneira de Eurípides [10] ou como Poliído[4] fez, com plausibilidade, dizendo que não só a irmã, mas ele também tinha que ser sacrificado, e daí a salvação. Depois disso, é colocar os nomes e desenvolver os episódios; que os episódios sejam apropriados, como no da loucura que causa a captura de Orestes, e a [15] salvação através do ritual de purificação.

O argumento da Odisseia
Nos dramas, os episódios são concisos, e a epopeia é longa por causa deles. Na Odisseia, o tema não é longo: alguém ficou longe de sua terra durante muitos anos, vigiado de perto por Poseidon, solitário e ainda acontece, em sua casa, de seus bens serem dilapidados [20] pelos pretendentes[5], que maquinam contra seu filho; depois de exposto às intempéries, ele volta, faz-se reconhecer por alguns, ataca, salva a si próprio e seus inimigos [23] perecem. Isso é o essencial; o resto, episódios.