Ptolomeu / Geografia 2.1.1-6

Ptol. Geog. 2.1.1-6 150 / 170
tradução / grego antigo

Nesta passagem, Ptolomeu discorre sobre a arte de representar territórios conhecidos e pouco conhecidos em mapas, ou seja, sobre princípios de cartografia.

A tradução aqui apresentada se baseia em versão inglesa publicada em 1932 e descoberta por Bill Thayer. O texto, possivelmente traduzido da versão latina de Müller, contém muitas falhas, mas dá uma ideia razoável do original. Providenciarei, futuramente, tradução direta do texto grego.

Livro II. Prólogo

1. O que em geral deve ser considerada uma representação da terra (lit. ‘geografia’) precisar ser explicado, e também como o desenho dos mapas deveria ser corrigido para manter o presente conhecimento das partes conhecidas do mundo habitável, quanto à questão da relação de um lugar para o outro, e também quanto a suas semelhanças e ao método de descrevê-las.

2. Comecemos a descrição com uma indicação quanto aos graus de longitude e latitude que foram atribuídos a lugares bem conhecidos. Eles estão aproximadamente corretos, uma vez que as tradições referentes a eles tem sido, continuamente, as mesmas; isto é, as tradições concordam no principal. Quanto aos graus atribuídos a localidades ainda não completamente exploradas, por causa do conhecimento incompleto e incerto que temos desses lugares, devem ser preferivelmente calculados a partir da proximidade de locais já colocados e mais completamente explorados. Isso deve ser feito para que nenhuma das localidades introduzidas para completar a representação da terra inteira fique sem um lugar fixo e definitivo.

3. Escrevemos, portanto, nas margens das páginas, notações referentes aos graus diferentes de lugares diferentes, e os utilizamos como medidas, em primeiro lugar, da longitude; anotamos então os graus de longitude de tal modo que, se alguma correção tiver que ser feita, a partir de uma investigação mais completa, pode ser introduzida nos espaços adjacentes que deixamos vazios entre as páginas separadas.

4. Além do mais, selecionamos a projeção que consideramos, em especial, a melhor para a confecção de mapas, aquela em que começamos pela mão direita. O trabalho pode então prosseguir de lugares já inseridos para os ainda não inseridos. Isso pode ser melhor efetuado se escrevermos as latitudes setentrionais antes das meridionais, e as ocidentais antes das orientais, pois ao olho do escritor ou leitor as localidades do extremo norte aparecem na parte superior, e as do oriente aparecem na mão direita, tanto no globo como no mapa da terra habitável.

5. Antes de mais nada, portanto, vamos por a Europa, que separamos da Líbia pelas Colunas de Héracles[1], e da Ásia, depois de colocar os mares e o pântano de Miotis[2], pelo rio Tanis e pelo meridiano desenhado através dele até a região desconhecida; colocamos então a Líbia[3], posicionando-a do mesmo adjacente ao mar que estende da baía que se encontra perto de Prasum, um promontório de Etiópia, até o Golfo da Arábia. Vamos separar a Líbia da Ásia pelo istmo que se estende da cidade de Heroon ao nosso mar e separa o Egito da Arábia e da Judeia[4]. Vamos fazer isso, pois não podemos dividir o Egito, fazendo uma divisão do continente, pelo Nilo, porque os continentes ficam unidos, onde é possível, mais corretamente por mares do que por rios.

6. Em último lugar, vamos colocar a Ásia, mantendo o mesmo plano, dispondo as partes de cada continente de acordo com sua relação com a Terra inteira e com todas as regiões desabitadas dos próprios continentes, escrevendo primeiro na costa mais ao norte, depois na ocidental, juntando os mares e as ilhas mais próximos, e aquelas que por alguma razão particular são as mais dignas de menção.