Ptolomeu / Introdução à Geografia

Γεωγραφικὴ ὑφήγησις Geographia Ptol. Geog. 150/170
O mapa-múndi de PtolomeuO mapa-múndi de Ptolomeu

O tratado Γεωγραφικὴ ὑφήγησις , Introdução à Geografia, foi escrito provavelmente entre 150 e 170, algum tempo depois do Almagesto, e seria o que hoje chamaríamos de atlas geográfico comentado.

O texto da Geografia é um verdadeiro tratado de cartografia, pois parece inteiramente dirigido à confecção de mapas. O próprio autor, no Livro I, ensina como desenhá-los a partir de seus dados.

A enorme influência da Geografia de Ptolomeu durante a Idade Média, de certa forma, abriu o caminho para a descoberta do Novo Mundo. Graças aos pressupostos de que a Ásia se estendia muito mais para o leste, Cristóvão Colombo (1450/1506) acreditou que poderia atingí-la viajando para o oeste. Por outro lado, a crença de Ptolomeu na existência de um continente ao sul do Oceano Índico acabou sendo desmentida, mas somente em 1773, a partir da viagens de James Cook (1728/1779).

Resumo

O texto é bastante extenso e foi dividido pelo autor ou pela tradição manuscrita em oito volumes ou livros, que ocupam quase 900 páginas das edições de Nobbe (1843-1845) e Müller (1883), nas quais se baseia este breve resumo.

O Livro I expõe conceitos teóricos, discussões sobre a construção de um globo, a descrição de projeções para mapas e uma crítica de sua principal fonte, Marino de Tiro (70-130). No início do Livro II, Ptolomeu assinala quais os mapas vai fazer, apresenta os métodos que devem ser utilizados e fala a respeito da coleta de dados, das tabelas de coordenadas geográficas e seu uso na confecção dos mapas.

Os Livros II-VI e a parte inicial do Livro VII compreendem um catálogo completo de mais ou menos 8.000 localidades (cidades, montanhas, penínsulas, rios, etc.) com a latitude e a longitude em graus, assim distribuídas: Europa (II-III), África (IV) e Ásia (V-VI). Para algumas localidades, detalhes topográficos descritivos acompanham as coordenadas. A segunda parte do Livro VII contém a descrição de um mapa do mundo, com os oceanos e ilhas mais importantes. O Oceano Índico, para Ptolomeu, era o maior de todos, e o Oceano Atlântico nem é mencionado.

No Livro VIII, novas discussões sobre os princípios da cartografia e dos métodos matemáticos, geográficos e astronômicos envolvidos. Há também curtas legendas para os mapas: dez para a Europa, quatro para a África e doze para a Ásia, com as regiões mostradas em cada um, com as cidades e o nome dos povos mais importantes. Segue uma descrição da projeção de todo o hemisfério conhecido, com seu aspecto esférico, em um plano, e dos erros que devem ser evitados na confecção de mapas com regiões muito populosas.

Passagens selecionadas

As ilustrações

Nenhum dos manuscritos sobreviventes contém mapas, infelizmente; apenas as indicações e coordenadas necessárias para construí-los.

Há ainda muita controvérsia a respeito da presença ou não de mapas na versão original da Geografia, e também quanto à autoria dos mapas. Alguns trechos do Livro VIII sugerem que sim, e a maioria dos estudiosos está de acordo. Mas teriam sido os primeiros mapas desenhados pelo próprio Ptolomeu? Não há resposta, ainda, para essa questão.

Sabe-se que um mapa-múndi baseado na Geografia foi exibido em Autun, França, no fim do Período Greco-Romano; nenhum dos manuscritos que chegaram até nós, porém, tem os mapas originais. Todos os mapas de Ptolomeu que existem são reconstruções baseadas nas coordenadas e nas instruções fornecidas por Ptolomeu em seu tratado.

Em dois dos mais antigos manuscritos, o desenho dos mapas é expressamente atribuído, sem referência cronológica, a um tal Agatodemo de Alexandria, que teria seguido as instruções do tratado. Não sabemos se Agatodemo foi apenas o desenhista que ilustrou a Geografia para Ptolomeu, na época em que o texto foi escrito, ou se ele foi um estudioso posterior que confeccionou os mapas de acordo com o texto.

Manuscritos, edições, traduções

Há hoje cerca de 50 manuscritos disponíveis, o que reflete a popularidade da obra durante a Idade Média. Os mais antigos e importantes são o da Biblioteca Apostolica Vaticana e o Vatopedi Cod. 655, do mosteiro grego do Monte Athos, ambos datados do século XIII/XIV. O Vatopedi tem lindas imagens, criadas durante a Idade Média.

A Geografia era conhecida dos árabes pelo menos desde 870. No Ocidente, foi redescoberta em 1295 pelo monge bizantino Maximus Planudes (1260/1330) e, em 1533, Erasmo de Rotterdam (1466/1536) reeditou o texto grego e publicou-o em Basileia.

Bem antes disso, porém, a primeira tradução para o latim foi efetuada pelo florentino Jacopo Angeli da Scarperia (1406/1409). A primeira edição impressa da versão latina, só com o texto, surgiu em 1475; a primeira edição ilustrada, com vinte e sete mapas, foi impressa em Roma pouco depois, em 1478. O Livro I foi traduzido da versão latina para o português por Pedro Nunes, cosmógrafo do Rei D. João III, em 1537.

No Brasil, existe um raro exemplar da tradução italiana de Ruscelli, datada de 1561 e efetuada a partir do texto grego da Geografia, na Biblioteca do Santuário do Caraça, em Minas Gerais; um dos 62 mapas da edição mostra uma das mais antigas representações do Brasil.