Demóstenes / III Filípica

Κατὰ Φιλλίπου Γʹ Prooemia 9 D. Prooem. 9-341
Felipe II da MacedôniaFelipe II da Macedônia

A III Filípica (gr. Κατὰ Φιλλίπου Γʹ) de Demóstenes representa o momento culminante da oratória política do orador (Lesky, 1995) e é sua peça de elaboração mais perfeita (Fonseca, 2001). Marca, também, o início de sua preponderância política.

A data desse discurso é -341. No ano anterior, (-342), Felipe II da Macedônia havia ocupado definitivamente a Trácia e suas intenções de prosseguir para o sul, rumo à Ática, se tornaram finalmente claras. A paz firmada em -346 entre a Macedônia e Atenas era, portanto, simples aparência, e em seu dicurso Demóstenes pregou a união de todos os helenos contra Felipe, uma vez que a liberdade de todos estava ameaçada.

Resumo da oração

O texto está dividido em 76 parágrafos, distribuídos em aproximadamente 25 páginas da edição de Vince (1930), na qual se baseia este resumo. O orador se dirige à Assembleia ateniense.

Felipe comete muitos atos injustos desde que a paz foi concluída e os interesses de Atenas foram com isso prejudicados; a situação atual é precária (1), graças à conduta de alguns atenienses e do gosto dos cidadãos pelas lisonjas (2-3). Se os atenienses esquecerem as lisonjas e me ouvirem, ainda há tempo (4); é preciso se mexer (5).

Alguns acham que Felipe não está fazendo guerra à cidade (6-8); a cidade está em paz com ele, mas ele não está em paz com a cidade (9), embora não reconheça isso abertamente (10). Felipe fez o mesmo antes de dominar os olíntios, os foceus, os habitantes de Feras e de Óreo, a pretexto de auxiliá-los (11-12); ele prefere enganar do que declarar guerra previamente (13). Em Atenas, faz com que os cidadãos briguem entre si para que não se unam todos contra ele (14).

As ações de Felipe na Quersoneso mostram sua real disposição; afirmo, portanto, que ele está em guerra conosco (15-17). Há risco de que ele domine as regiões vizinhas e deve ser repelido já, antes que seja tarde; convém ajudar agora a Quersoneso e Bizâncio (18-20). Felipe se aproveitou da discórdia que reina entre os helenos e quer escravizar a todos (21-22).

Durante suas hegemonias, nem Atenas, Esparta ou Tebas fizeram o que bem entenderam. Todos se levantavam contra eles quando necessário (23-24), embora as faltas cometidas nesses 100 anos tenham sido muito inferiores às de Felipe nos últimos 13 anos (25). Basta ver o que ele fez em diversos lugares e até na Eubeia, próxima de Tebas e de Atenas; não há espaço suficiente para sua ambição (26-27).

Os helenos, diante disso, não se aliam e só assistem ao seu crescimento (28-29); talvez por ele não ser um heleno (30-31). Mas nada lhe falta para chegar à extrema insolência (32), e ninguém reage aos seus ultrajes à Hélade (33-35). Os helenos eram outrora mais propensos à liberdade do que à escravidão e não toleravam aqueles que se vendiam aos que desejavam dominar a Hélade. Não é isso o que acontece atualmente e os abundantes recursos militares de agora nada adiantam. Muito diferente do caso de Ártmio de Zeleia, por exemplo, cujo crime é lembrado por uma estela de bronze; naquela época, a cidade punia a venalidade (36-45).

Ouçam meu conselho: (46) Felipe tem um exército competente, rápido e ativo em qualquer época do ano (47-50); não devemos dar-lhe combate direto e sim imobilizá-lo com nossos preparativos (51-52), e evitar os que falam a seu favor (53-55), contrariamente ao ocorrido em outras cidades (56-62). Lá, como aqui, o povo ouvia os que defendiam Felipe (63) por não gostarem das medidas propostas pelos outros (64-66). É loucura imaginar que tais coisas não acontecerão em nossa cidade (67); depois, não adianta se arrepender (68-69).

Devemos, portanto, nos preparar com trirremes, fundos e soldados, convidar os outros helenos e até mesmo o Rei a se juntar a nós; e auxiliar imediatamente a Quersoneso (70-73). Cabe a nós a iniciativa (74-75). Essa é minha proposta (76).

Passagens selecionadas

Manuscritos, edições, traduções

Dos numerosos manuscritos com as orações de Demóstenes, o melhor é o Parisinus 2934, do século X, atualmente na Biblioteca Nacional de Paris. Um outro manuscrito, o Marcianus 416 F da Biblioteca de São Marcos em Veneza, datado do século X-XI e de razoável qualidade, tornou-se a base da Aldina.

A editio princeps, primeira edição dos tempos modernos, é a Aldina, publicada em Veneza em 1504. Edições modernas mais importantes: a de Reiske (1770/1775), a de Bekker (1823/1824) e a de Dindorf (1867). Dentre as edições mais recentes, destacam-se as de Butcher (1903), Croiset (1925) e Vince (1930), esta a utilizada aqui.

A primeira tradução da III Filípica para o português é a de Ísis Borges da Fonseca (2001).