Eurípides / Medeia

Μήδεια Medea E. Med. -431
Μήδεια (...) ἐδιδάχθη ἐπὶ Πυθοδώρου ἄρχοντος ὀλυμπιάδι π̅ζ̅ ἔτει ᾱ. πρῶτος Εὐφορίων, δεύτερος Σοφοκλῆς, τρίτος Εὐριπίδης Μήδειᾳ, Φιλοκτήτηι, Δίκτυι, Θερισταῖς σατύροις. οὐ σῴζεται.

Medeia (...) foi representada no arcontado de Pitodoro, no primeiro ano da 87ª Olimpíada. Em primeiro lugar, Euforíon; em segundo, Sófocles; em terceiro, Eurípides, com Medeia, Filoctetes, Dictis e o drama satírico Ceifeiros. Não sobreviveram.

Cenas da ‘Medeia’ de EurípidesCenas da ‘Medeia’ de Eurípides

A tragédia Medeia (gr. Μήδεια), uma das mais conhecidas obras-primas de Eurípides, foi representada pela primeira vez nas Dionísias Urbanas de -431, ano em que começou a Guerra do Peloponeso.

As outras peças da tetralogia eram Filoctetes e Dictis, tragédias, e Ceifeiros, drama satírico, todos perdidos. Eurípides obteve a terceira colocação no concurso de tragédias; Euforion ganhou o primeiro prêmio e Sófocles, o segundo (supra).

Eurípides nos transmitiu, nesse drama, um dos mais interessantes e mais emocionantes retratos das forças antagônicas que governam a alma humana. Medeia, a personagem principal, luta com todas as forças e todas as armas contra as adversidades que a acometem.

Hipótese

Jasão e Medeia, expulsos de Iolco após a morte de Pélias, vivem agora em Corinto com seus dois filhos. O rei de Corinto, Creonte, convence Jasão a abandonar Medeia e se casar com sua filha; para tanto, expulsa Medeia e os dois filhos da cidade. Egeu, rei de Atenas, concede asilo a Medeia, mas a feiticeira decide se vingar de Jasão. Primeiro, através de um ardil, mata Creonte e a filha dele; a seguir, mata os próprios filhos e foge, finalmente, em um carro alado cedido pelo deus Hélio, seu avô.

Dramatis personae

Ama serva de Medeia Pedagogo servo que cuida dos filhos de Jasão e Medeia Medeia Filha de Eetes, rei da Cólquida, esposa de Jasão Coro Mulheres de Corinto Creonte Rei de Corinto Jasão Filho de Éson, antigo rei de Iolco, marido de Medeia Egeu Rei de Atenas, pai do herói Teseu Mensageiro Filhos de Jasão e Medeia

Mise en scène

A cena se passa em Corinto, diante da casa de Medeia. O cenário representava, certamente, a porta da casa; a cena final, com a carruagem de Hélio, deve ter sido representada no teto da skené.

O protagonista fazia o papel de Medeia; o deuteragonista, o da Ama e o de Jasão; e o tritagonista, o do Pedagogo, o de Egeu e o do Servidor. O papel de Creonte pode ter sido representado pelo deuteragonista ou pelo tritagonista.

Resumo

A tragédia contém 1419 versos, distribuídos ao longo de mais ou menos 40 páginas da edição de Page (1985), que serviu de base para este resumo.

A Ama conta que Jasão traiu Medeia e seus filhos, tendo se casado com a filha de Creonte, rei de Corinto, e que Medeia está deprimida, encolarizada e revoltada com a situação. O Pedagogo chega com as crianças e diz ter ouvido que Creonte planeja exilar Medeia e seus filhos. A Ama se preocupa por causa do terrível temperamento de sua senhora, cujos lamentos se tornam audíveis (Prólogo, 1-131).

O Coro pede que a Ama traga Medeia antes que ela pratique algum mal (Párodo, 132-270). Ela vem, lamenta ter saído da Cólquida e deplora as vicissitudes de todas as esposas, mostrando-se rancorosa e vingativa (1º Episódio, 214-270). Creonte ordena-lhe que saia da cidade com os dois filhos e diz abertamente que teme sua vingança. Medeia implora, mas Creonte não volta atrás; concede-lhe apenas um dia para que prepare tudo. Medeia decide usar esse tempo para matar o rei, Jasão e sua nova esposa (1º Episódio, 271-409). O Coro lamenta a inversão de valores tais como os sagrados juramentos e observa que, exilada, Medeia não poderá se refugiar em sua terra de origem (1º Estásimo, 410-445).

Jasão tenta apaziguar Medeia e lhe diz que ela e os filhos foram exilados por causa de seus insultos à casa real. Medeia, furiosa, lembra-lhe que no passado tudo fez para salvá-lo, tornou-se inimiga da própria família e por fim foi traída por ele. Jasão contesta, atribui sua salvação a Cípris e sustenta que Medeia teve mais vantagens do que desvantagens ao ajudá-lo, e que se casou de novo para prosperar e ter recursos para melhor cuidar dela, Medeia, e dos filhos de ambos. Oferece-se para ajudá-la no exílio, mas ela recusa (2º Episódio, 446-626). O Coro faz o elogio das núpcias bem sucedidas (2º Estásimo, 627-662).

miniaturaCreusa e os filhos de Medeia (1563)

Egeu, rei de Atenas, de passagem por Corinto, encontra Medeia e aceita receber os exilados em Atenas. Assim garantida, Medeia maquina a morte da noiva de Jasão e de seus próprios filhos. (3º Episódio, 663-823). O Coro evoca a cidade de Atenas e implora a ela que não faça isso (3º Estásimo, 824-865). Medeia chama Jasão, desculpa-se, pede-lhe que intervenha junto à nova esposa para reverter o exílio dos filhos e envia as crianças até a filha de Creonte com presentes. (4º Episódio, 866-975). O Coro prenuncia a morte da princesa e o infortúnio de Jasão (4º Estásimo, 976-1001). O pedagogo anuncia que os presentes foram entregues e Medeia, depois de alguma vacilação, manda as crianças para o palácio e se mostra firme em seus propósitos (5º Episódio, 1002-1120).

O Mensageiro conta que a princesa e o rei estão mortos, graças ao veneno que impregnava os presentes enviados. Medeia anuncia a morte próxima dos filhos e entra no palácio (5º Episódio, 1121-1250). O Coro ouve as súplicas e os gritos das crianças, recorda a lenda de Ino (5º Estásimo, 1251-1292) e conta a Jasão que seus filhos foram mortos pela própria mãe. Quando Jasão tenta entrar no palácio, Medeia aparece acima dele, sobre a carruagem de seu avô Hélio; diz a Jasão que tudo aconteceu por culpa dele e parte, levando os corpos dos filhos.

Passagens selecionadas

Manuscritos, edições e traduções

As fontes mais importantes da Medeia são os manuscritos Parisinus 2713 e Parisinus 2712, dos séculos XII e XIII, respectivamente, ambos da Biblioteca Nacional de Paris; o Vaticanus 909, do século III, da Biblioteca do Vaticano; e o Laurentianus xxxii 2, do século XIV, da Biblioteca Laurenciana de Florença.

A editio princeps é a de Janus Lascaris, publicada em Florença em 1496. As edições mais recentes e mais utilizadas atualmente são a de Méridier (1961), a de Page (1985) e a de Kovacs (1998). Aqui, foi utilizado o texto grego de Page (1985), que acompanha a edição de Torrano (1991).

A primeira tradução para o português, inédita, foi realizada por Cândido Lusitano (1719/1773); a primeira publicação, no entanto, é a de Filinto Elíseo em 1840. Depois, vieram as traduções de Cabral do Nascimento (1973), Danielou (1980), Maria Helena da Rocha Pereira (1991), Jaa Torrano (1991), Ribeiro de Oliveira (2007) e Trajano Vieira (2010). Edvanda Bonavina da Rosa publicou uma versão para leitura dramatizada na Coleção Giz-en-Scène em 1995.

Influências e reapresentações

miniaturaApresentação da Medeia em 1898

Depois da Antiguidade, Medeia foi reapresentada pela primeira vez em 1539, no Collège de Guyenne (Bordeaux, França), pelos alunos de George Buchanan (1506/1582). Grande quantidade de apresentações mais ou menos fiéis e muitas adaptações da tragédia euripidiana se seguiram, de tal modo que, nos últimos dois séculos, Medeia é indubitavelmente a mais encenada de todas as tragédias gregas.

No Brasil, mais precisamente em São Paulo, textos baseados na peça foram apresentados por Cristiane Tricerri (SESC Anchieta, 1990) e pelo grupo “Mergulho no Trágico” (auditório do MASP, 1991). Até 2014, pelo menos outras 15 apresentações ocorreram em São Paulo... em nosso país, Medeia é também a tragédia grega mais encenada! Importante lembrar, ainda, duas importantes adaptações: a de Chico Buarque de Hollanda e Paulo Pontes, Gota d'Água (1975), e a de Antunes Filho (2001), também intitulada Medeia.

A segunda parte do filme Medea, de Pier Paolo Pasolini (1969), segue de perto a tragédia de Eurípedes.

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