Pólibo / Da natureza do homem

Περὶ φύσιος ἀνθρώπου De natura hominis[Hippoc.] Nat. Hom.c. -400
Τοιαύτη δὲ καὶ τῶν ζώων ἐστὶν ἡ φύσις, καὶ τῶν ἄλλων πάντων· γίνεταί τε ὁμοίως πάντα καὶ τελευτᾷ ὁμοίως πάντα·.

Esta é a natureza dos animais e de todos os outros:
todas as coisas nascem e morrem da mesma maneira.

O tratado hipocrático Da natureza do Homem contém a famosa teoria dos humores, engenhosa explicação da composição do corpo humano e da causa das doenças.

Essa engenhosa construção se baseou, em grande parte, na doutrina dos quatro elementos do filósofo pré-socrático Empédocles de Acragás (-492/-432) e nos conceitos do médico-filósofo Alcmeon de Crotona (fl. -500).

Graças ao prestígio de Galeno (129/204), que comentou extensivamente o texto, essa teoria fundamentou a patologia (ciência que estuda a doença e suas causas) e a terapêutica médica da Antiguidade até o fim do século XVIII.

Autoria e extensão

Segundo Aristóteles (-384/-322), o autor do texto é o médico Pólibo (Arist. HA. 3.512-3), o que é corroborado pelo autor do manuscrito Anonymus Londinensis, escrito provavelmente na época de Aristóteles. Galeno, no entanto, considerou-o, de forma muito subjetiva, "digno de Hipócrates".

Embora muitos eruditos tenham endossado a opinião de Galeno até pouco tempo atrás, em nossos dias Pólibo é quase unanimamente considerado o autor do tratado. Ele viveu, provavelmente, bem no final do século -V e, além de ter sido médico, discípulo e genro do "pai da medicina", Hipócrates de Cós (-460/-380), nada sabemos a seu respeito. O texto deve ter sido escrito por volta de -400.

Os tratados Da natureza do homem e Da dieta na saúde aparecem, tradicionalmente, juntos nos manuscritos. Atualmente, reconhece-se que o tratado Da natureza do homem vai somente até o fim do 15º parágrafo.

Resumo

No artigo de Cairus (1999), no qual este resumo se baseou, o tratado ocupa 15 páginas.

Nos primeiros oito parágrafos, a teoria dos humores é detalhada; o nono parágrafo contém regras gerais de terapêutica; o décimo-primeiro, uma descrição dos vasos sanguíneos; e os demais, considerações diversas sobre algumas doenças.

A natureza humana deve ser estudada à luz da Medicina; a teoria de que o homem se compõe de um só princípio não tem consistência (I). Não é possível que o homem seja uma unidade, como pensam alguns médicos, pois nesse caso haveria uma só doença e um só medicamento; na realidade, o homem é formado por diversas substâncias (II). Dessa forma, a gênese não é possível a partir de um só indivíduo; cada princípio que contribui para o novo ser conserva sua própria natureza, e todos os seres vivos nascem e morrem de maneira igual (III).

miniaturaOs quatro humores

O corpo do homem se compõe de sangue, fleuma, bile amarela e bile negra. Há saúde quando esses humores estão misturados de forma equilibrada, e ocorre doença no caso de falta ou excesso de um deles. Cada um deles tem sua natureza particular e suas propriedades (IV-V). Os que defendem que o homem é formado apenas por um desses humores se baseiam em evidências equivocadas (VI).

Os humores variam de acordo com a estação do ano, devido à influência do calor, do frio, do seco e do úmido, e ora um é dominante, ora outro (VII), daí a incidência de certas doenças conforme a estação do ano (VIII).

As doenças provêm do ar, quando várias pessoas são acometidos do mesmo problema, ou da dieta, em caso contrário. Para curar as doenças causadas pela dieta de cada um, o médico deve se opor a cada uma das características de cada problema; no caso das doenças causadas pelo ar, evitar as regiões afetadas, respirando o menos possível o ar desses locais (IX). A gravidade da doença depende dela ter afetado as partes fortes ou fracas do corpo (X).

Descrição das veias[1] do corpo e aplicação desse conhecimento nas flebotomias para fins de sangria (XI). Considerações sobre o comportamento dos humores em relação a diversas doenças (XII-XV).

Os textos

Manuscritos e edições

A fonte mais importante do tratado Da natureza do homem é o manuscrito Parisinus graecus 2253 (sæc. XI), atualmente conservado na Biblioteca Nacional de Paris. A edição princeps é a Aldina, de 1526; Galeno escreveu, ademais, extenso "comentário" que chegou integralmente até nós.

Dentre as boas edições modernas, as mais antigas são a de Littré (1849), a de Fredrich (1899) e a de Villaret (1911); as mais acessíveis são a de Jones (1931), utilizada aqui, e a de Jouanna (1975).

Passagens selecionadas

Traduções

A primeira tradução deste tratado para a língua portuguesa é a de Henrique Cairus, publicada em 1999 e republicada, com aperfeiçoamentos, em 2005.