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Religião, filosofia e medicina

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ἰητρικὴν εἶναι ... ἀπαλλάσσειν τῶν νοσεόντων τοὺς καμάτους, καὶ τῶν νοσημάτων τὰς σφοδρότητας ἀμβλύνειν, καὶ τὸ μὴ ἐγχειρέειν τοῖσι κεκρατημένοισιν  ὑπὸ τῶν νοσημάτων, εἰδότας ὅτι ταῦτα οὐ δύναται ἰητρική.

Medicina é ... livrar os doentes dos sofrimentos, abrandar a violência das doenças e não tocar os já dominados pela doença, sabendo que nesses casos a medicina é impotente.

Médico no “iatreion”Médico no “iatreion”

Durante a Idade das Trevas e nos primeiros séculos do Período Arcaico, a medicina grega provavelmente se limitava às práticas descritas por Homero.

Mais tarde, no fim do século -VI e no começo do século -V, os conhecimentos médicos ainda não estavam sistematizados, mas o exercício da medicina era já razoavelmente difundido.

Associada primariamente tratamento de doenças, independentemente do método, a medicina grega arcaica era praticada de muitas maneiras e por diferentes tipos de pessoa, sem dúvida através de diferentes métodos... Havia médicos há muito tempo, pelo menos desde a Idade das Trevas, mas sem qualquer tipo de qualificação formal. Isso significa que qualquer um podia oferecer serviços de natureza médica, sem qualquer restrição legal.

miniaturaTreinador ou juiz observa uma luta, -500/-490

Conselhos sobre a cura de doenças eram fornecidos pelos vendedores e coletores de ervas (gr. φαρμακοπώλαι e ῥιζότομοι). Parteiras (gr. μαῖαι), além de efetuar partos, certamente davam conselhos médicos sobre doenças do puerpério e do recém-nascido. Os treinadores de atletas tinham bons conhecimentos sobre alimentação, traumas e problemas ortopédicos que eventualmente afetavam os atletas nos ginásios (e.g. Heródico; ver Platão, República 406a-c e Protágoras 316e). E ainda havia, além deles, purificadores (gr. καθαρταί) e magos (μάγοι), charlatães que recomendavam encantamentos e poções mágicas para tratar doenças ([Hipócrates] Da doença sagrada 2).

Os doentes também podiam, certamente, procurar um dos templos da cura de Asclépio, Anfiarau ou de outra divindade, onde os sacerdotes sustentavam que o próprio deus orientava o tratamento da doença ou, em certos casos, até mesmo efetuava a cura (Aristótanes, Pluto 653-741).

Depois do início do século -V, na esteira da investigação racional dos fenômenos naturais iniciada décadas antes pelos filósofos pré-socráticos, a Medicina começou a se destacar da esfera da magia e da religião e a adentrar os primórdios da racionalidade[1]. Difícil dizer se os filósofos Alcmeon de Crotona, Empédocles de Acragás, Diógenes de Apolônia e outros que abordaram temas de natureza médica eram, realmente, médicos; mas podemos afirmar, pelo menos, que foram grandes teóricos da medicina.

Surgiram também, nessa época, os primeiros médicos não vinculados a relatos mitológicos e cuja existência histórica pôde ser comprovada: Somrotidas, Demócedes, Onasilos, Erixímaco e outros. Em pelo menos um aspecto esses médicos antigos eram muito parecidos com os de hoje: não faziam pesquisas e não criavam teorias, mas aplicavam concienciosamente os conhecimentos transmitidos por seus antecessores e contribuíram, pouco a pouco, para o alto conceito que a profissão médica tem em nossos dias.