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Os primeiros geógrafos

Os gregos foram os primeiros geógrafos e, considerando as limitações de seus instrumentos, suas realizações foram notáveis.
C.A. Ronan, 1987
O mapa-múndi de Anaximandro de MiletoO mapa-múndi de Anaximandro de Mileto

Que os gregos tinham grande prática no uso das estrelas e acidentes geográficos para orientar a navegação ficou evidente nos últimos séculos do Período Micênico, quando se desenvolveu intensivo comércio marítimo a leste e a oeste da península balcânica.

O conhecimentos dos navegantes eram, contudo, eminentemente práticos, não sistemáticos e fundamentalmente utilitários.

Idade das Trevas

As primeiras concepções geográficas gregas estão nas duas epopeias atribuídas a Homero (c. -750), a Ilíada e a Odisseia, criadas no final da Idade das Trevas.

Fig. 0158. O mundo segundo Homero, c. -750.

Na Ilíada, a Terra é descrita como um disco achatado em cujo centro encontrava-se o santuário de Delfos, na Fócida ( na Fig. 0158). A Grécia Continental e demais territórios conhecidos eram rodeados em sua totalidade por um imenso rio, o Rio Oceano, de onde vinham as águas dos mares, rios e fontes.

A Odisseia é, em grande parte, um pormenorizado diário de viagens do herói Odisseu, que vagou por dez anos após a Guerra de Troia.

Período Arcaico

O mais antigo geógrafo conhecido é o filósofo milesiano Anaximandro (-610/-724), o primeiro a desenhar um mapa do mundo conhecido conforme as crenças da época. Outro milesiano, Hecateu de Mileto (-550/-475) escreveu o mais antigo tratado de geografia, Periegese, que não chegou até nós. Sabe-se apenas que dava descrições detalhadas de povos e lugares, era dividido em duas partes, Europa e Ásia (denominação que englobava o norte da África) e continha um mapa-múndi, que pôde ser reconstituído.

A mando do rei Dario I da Pérsia (-522/-486), o explorador Cílax de Carianda empreendeu, entre -519 e -512, uma expedição naval que desceu o rio Indo, costeou a Pérsia e chegou à Arábia (Hdt. 4.44). O alegado relato da viagem, Périplo[1], parece ter sido usado posteriormente por Heródoto (-484/-425) e por Estrabon (-64/24).

A esfericidade da terra foi defendida pela primeira vez pelos filósofos pré-socráticos durante o século -VI), mas não sabemos com certeza como chegaram a essa conclusão. Já Aristóteles (-384/-322) apresentou uma das melhores provas anteriores às fotos tiradas pelos satélites artificiais: a forma redonda da sombra da Terra projetada na Lua durante um eclipse[2]. Aristóteles descreveu também, em seu tratado Meteorologia, os contrastes físicos da superfície terrestre (rios, mares, chuvas, etc.) que determinam um conjunto de áreas habitáveis (o ecúmeno) em relação às não habitáveis.

Período Clássico

O historiador Heródoto de Halicarnasso (-484/-425) fez notáveis descrições de povos e lugares, e o médico Hipócrates de Cós (-460/-380), a quem se atribui o tratado médico De Águas, Ares e Lugares, estudou a influência do meio geográfico na constituição humana e na saúde das populações. O autor desse tratado hipocrático foi um ilustre precursor do determinismo geográfico, doutrina relativamente popular entre os geógrafos do século XIX.

Passagens selecionadas

Eudoxo de Cnidos (-400/-347), conhecido principalmente pelos seus trabalhos de matemática e de astronomia, escreveu, em vários volumes, uma Descrição da Terra, trabalho de geografia descritiva hoje perdido.

O audacioso Píteas (c. -325), explorador que viveu na colônia grega de Massília (atual Marselha), ultrapassou o estreito de Gibraltar, navegou para o norte e chegou até Tule (Noruega? Islândia?), depois de circundar as Ilhas Britânicas. Um resumo de seu livro, Sobre o Oceano, sobreviveu nos textos de Estrabon (-64/24) e de Plínio, o Velho (23/79), e contribuiu para o desenvolvimento da cartografia.

Pouco antes de -320, o almirante Nearco, por ordem de Alexandre III (-356/-323), navegou desde a foz do Indo até o Golfo Pérsico. Algumas de suas observações chegaram até nós através de Estrabon (-64/19) e do historiador Arriano (sæc. II).

Do Período Helenístico em diante, a geografia passou a ser estudada de um ponto de vista verdadeiramente científico.