Uma receita prática
185c (...) Disse Aristodemo que devia falar Aristófanes, mas tendo-lhe ocorrido, por empanturramento ou
algum outro motivo, um acesso de soluço, não podia ele falar; mas disse ao médico Erixímaco, que se reclinava logo abaixo dele:
"Ó Erixímaco, és indicado para ou fazer parar o meu soluço ou falar em meu lugar, até que eu o possa parar."
E Erixímaco respondeu-lhe: "Farei as duas coisas: falarei em teu lugar e tu, quando acabares com isso, no meu.
E enquanto eu estiver falando, vejamos se, retendo tu o fôlego por muito tempo, quer parar o teu soluço; senão, gargareja com
água. Se no entanto ele é muito forte, toma algo com que possas coçar o nariz e espirra; se fizeres isso duas ou três vezes,
por mais forte que seja, ele cessará (...)
186a Com efeito, quanto a ser duplo o Amor, parece-me que foi uma bela distinção; que porém não está ele
apenas nas almas dos homens, e com os belos jovens, mas também nas outras partes, e com muitos outros objetos, nos corpos de
todos os outros animais, nas plantas da Terra e por assim dizer em todos os seres, é o que creio ter constatado pela prática
da medicina, a nossa arte (...)
Ora, eu começarei pela medicina a minha fala, afim de que também homenageemos a arte. A natureza dos corpos, com efeito,
comporta esse duplo amor; o sadio e o mórbido são cada um reconhecidamente um estado diverso e dessemelhante, e o dessemelhante
deseja e ama o dessemelhante (...)"
É de fato preciso ser capaz de fazer que os elementos mais hostis no corpo fiquem amigos e se amem mutuamente. Ora, os mais
hostis são os mais opostos, como o frio ao quente, o amargo ao doce, o seco ao úmido, e todas as coisas desse tipo; foi por
ter entre elas suscitado amor e concórdia que o nosso ancestral Asclépio, como dizem estes poetas aqui, e eu acredito,
constituiu a nossa arte (...)